Por: Wesylle Santana
Depois de quase quatro anos que entrei no mundo dos fotógrafos, tenho respirado vinte e cinco horas por dia e oito dias por semana essa tal fotografia digital. Resolvi encarar o desafio de compartilhar da minha pouca experiência.
Com o objetivo de me forçar a estudar mais e, quem sabe, também te ajudar a ver a fotografia sob uma nova perspectiva, publicarei, se possível semanalmente, essa série de artigos sobre os mitos e verdades do mundo por trás das lentes. Vale à pena lembrar que tudo o que escrevo é apenas minha opinião e o meu modo de ver esse assunto. Em outras palavras, amanhã posso ter uma visão diferente, mas nem sempre estarei certo.
Legal, isso tudo isso é visto de uma forma muito bonita e romântica, no entanto, vamos ao que interessa:
Desde o seu início, a fotografia foi uma arte cheia de mistérios e sempre restrita à uma classe de pessoas que se dedicava ao estudo e prática. Contudo, quando o sistema de captação de imagem digital tomou o lugar do analógico, muita coisa mudou. A popularização da fotografia causada pela fusão da mesma com as redes sociais e aparelhos eletrônicos que nos permitem ter uma câmera sempre à mão e um fácil manuseio da mesma, nos dá a possibilidade de fotografar sem possuir os devidos conhecimentos. O que nem sempre é bom.
Para entender melhor o que vem acontecendo, vamos nos lembrar de quando cursamos o ensino médio e estudamos as escolas literárias na aula de Literatura. No final do Século XIX (por favor, não pare de ler) começou, no Brasil, um movimento literário chamado Parnasianismo. Resumindo de forma leiga, esse “estilo de literatura” é aquele no qual os escritores falavam de assuntos clássicos e/ou místicos com uma linguagem culta e valorizavam muito a estética. Já com o início do Pré-Modernismo, os escritores desafiaram a estética parnasiana escrevendo textos com uma linguagem coloquial e assuntos do dia a dia.
Mesmo com essas mudanças na literatura, para se escrever um livro ainda é necessário que se aprenda a escrever. Agora, imaginem vocês, se qualquer um pudesse fazer livros e publicar sem sequer saber o alfabeto? É mais ou menos isso que está acontecendo com a nossa amada fotografia.
Abaixo, criei algumas identidades baseadas no que vejo diariamente nas redes sociais.
01 - Fotógrafo PARNASIANO
É aquele que enxerga a sua fotografia como uma obra de arte. Adora técnicas e está sempre atrás de novos equipamentos. Quanto mais, melhor. Também é seguidor fiel das modas do mundo fotográfico. Sim, estou falando de vinhetas, filtros, HDR, fotos de pobres e idosos em preto e branco e todas as modinhas americanas possíveis como newborn, trash the dress, save the date, strobist, smash the cake... esse tipo de coisa. Quase sempre consegue produzir imagens muito bonitas. No entanto, vazias. Sem conteúdo. Fotos que, apesar de belas, não dizem nada.
02 – Fotógrafo MODERNO
Do outro lado, encontramos o fotógrafo moderno. Para ele, pouco importa o equipamento que tem. Basta que caibam todos os amigos na foto. Se cortar os pés ou um pedacinho da cabeça, está valendo. Mesmo se ficar um pouco escura ou tremida, não tem problema. O importante é registrar toda a sua vida. Especialmente o que ele come. E, claro, é tudo publicado em sua rede social favorita no mesmo instante.
03 – Fotógrafo PROFISSIONAL
Chegamos à classe que mais cresce ultimamente. Aquela das pessoas que amam fotografia. Compram a sua primeira máquina “semiprofissional” pela internet e passam por um ritual mágico onde se tornam “fotógrafos profissionais” assim que o equipamento chega pelo correio. Não perdem tempo em atualizar seu perfil do facebook. A foto do perfil com a máquina nova no rosto é sagrada. Nas habilidades profissionais do perfil, encontramos “Fotógrafo” na empresa “ALGUMACOISA Professional Photography”. Os termos Fotógrafo ou Fotografia também tem que aparecer ao lado do seu nome. Não posso esquecer a marca d’água GRANDE e chamativa (quase sempre com uma letra manuscrita) em todas e quaisquer fotos que forem publicadas. Assim como o fotógrafo parnasiano, adora as modinhas. Especialmente os artifícios da pós-produção. E, se a foto não ficou tão boa assim, é só colocar na legenda “foto sem edição no photoshop”. Mas, esquecem um detalhe: O termo “profissional” nem sempre é sinônimo de qualidade. Na verdade, ele apenas caracteriza a pessoa que faz de determinada atividade, a sua profissão.
04 – Fotógrafo CONSCIENTE
Talvez essa seja a classe mais próxima do que penso ser o ideal. O fotógrafo consciente é muito crítico, perfeccionista e busca aprimorar cada dia mais suas técnicas. Preocupa-se muito com o conteúdo de sua fotografia. Também busca uma estética impecável e funcional. Pensa duas vezes antes de publicar uma foto com a sua marca. Procura criar um estilo próprio que reflita sua personalidade independente de qualquer moda. Como profissional ou entusiasta, vê a fotografia como um meio de expressar a sua ideia, o seu modo de ver o mundo. E o equipamento? O importante é ter o que se precisa para conseguir o resultado esperado. Nada além disso.
05 – Autorretratista compulsivo
Chegamos à última classe. Provavelmente a mais recente. Essa classe é composta por fotógrafos modernos que possuem a compulsão por autorretratos. Sem se preocupar com a estética ou técnica, o negócio é tirar fotos no espelho. No banheiro, no quarto ou no elevador. Sozinho ou com os amigos. Sempre com a mesma expressão e o mesmo enquadramento (aquele que esconde os seus defeitinhos). Todas têm que ser publicadas e, quase sempre, acompanhadas por uma legenda com alguma música ou citação famosa. Autorretratos são legais para praticar fotografia. Mas, que tal tentar algo diferente?
E aí, já descobriu na classe que você se encaixa?
Admito que, nesses últimos anos, passei por algumas dessas fases. E há alguns meses que venho lutando para ser menos parnasiano e mais consciente em minha fotografia.
Deixe sua resposta e compartilhe comigo suas experiências nos comentários. Até +!
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