Será?

Quem grampeia presidente em outros países vai preso, afirma Dilma

Em sua primeira viagem após o acirramento da crise política nesta semana, a presidente Dilma Rousseff criticou ter tido sua conversa com Lula divulgada e afirmou que, em outros países, quem faz isso vai preso.

A gravação é parte de uma série de interceptações telefônicas do ex-presidente Lula, incluídas no inquérito da Operação Lava Jato. Na quarta (16), a Justiça Federal do Paraná tornou públicos os áudios e as transcrições. No áudio, a presidente diz que encaminharia a Lula o "termo de posse" de ministro, o qual só seria usado "em caso de necessidade".

"Essa conversa [de Dilma com Lula] apareceu gravada, grampeada, e ai é um fato grave. Grampo na Presidência da República ou para qualquer um de vocês não é algo licito. É algo ilícito. E é previsto como crime na legislação. O grampo à minha pessoa não é por ser eu, Dilma, é por eu ser presidenta", afirmou a presidente, que participa de cerimônia de entrega de unidades habitacionais em Feira de Santana (BA) pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

Segundo ela, o cargo de presidente não é passível de grampo e a medida fere a lei de segurança nacional. "Em muitos lugares do mundo, quem grampear um presidente vai preso. Se não tiver autorização judicial da Suprema Corte. Vou dar um exemplo para vocês: grampeia o presidente da República nos Estados Unidos e veja o que acontece com quem grampear. É por isso que eu vou tomar todas as providencias cabíveis nesse caso."

"Outro dia, deram como exemplo de obrigações presidenciais o caso do presidente dos EUA, presidente Nixon. Que que o presidente Nixon fazia? Ele grampeava todo mundo que entrava na sala dele, e todos os telefones que eram feitos para ele. Todos telefonemas que recebia ia lá e grampeava. Todo mundo que entrava na sala ele ia lá e grampeava. E aí? E aí não ficou assim não. O que aconteceu? A Suprema Corte dos EUA mandou ele entregar todos os grampos e proibiu ele de grampear. Veja bem, era o presidente grampeando. Ele não pode grampear, porque deu na cabeça dele que ia grampear sem autorização. Então, o exemplo é o seguinte: nem presidente da República pode grampear sem autorização. O que dizer de outras hierarquias? Esse é o exemplo do presidente Nixon. Não é válido o grampo, o grampo é uma forma incorreta, a não ser que a Justiça autorize. No meu caso, eu não sou passível de grampo, a não ser que o Supremo Tribunal Federal da nossa República autorizar. Se não, fere frontalmente a lei de segurança nacional, que protege o presidente."

A petista disse que vai agir para evitar que as pessoas percam os direitos de cidadania no país.

Por isso, disse ela, "é importante a gente não voltar atrás na história". "Não sei se vocês sabem, mas nos anos 20 do século passado, como é que funcionava a polícia. Aqui no Estado da Bahia e em todo o Brasil. A polícia prendia não porque aquele ou aquela estavam cometendo delito, mas prendiam para seguir interesses dos coronéis. Como funcionavam os juízes? Também prendiam para satisfazer os interesses dos grandes proprietários e das grandes fortunas desse país.

"Nós, que lutamos pela democracia, e quero dizer para vocês, e quero dizer a vocês, que lutei pela democracia. Sou presidente da República hoje, mas nos anos 70 fiquei três anos na cadeia, porque naquela época ninguém podia ser contra, se manifestar contra, dizer o que pensa. Hoje nós podemos."

Segundo ela, é uma "volta atrás na roda da história a politização" da Justiça e da polícia.

Ela ainda defendeu a ida de Lula ao governo, a quem qualificou de "amigo". "Quando vocês estão enfrentando alguma dificuldade, vocês não chamam um parente, um amigo para te ajudar? Chamam. Pois eu chamei um grande amigo meu, e de vocês, para me ajudar. Eu chamei para me ajudar o presidente Lula."

Em Feira de Santana, Dilma participou de entrega simultânea de imóveis também em Itabuna (BA), Suzano (SP), Itapeva (SP) e Teresina (PI).

Ao chegar ao conjunto residencial, Dilma foi saudado por presentes ao evento com os gritos "Não vai ter golpe", "Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma" e "Lula, guerreiro do povo brasileiro".

NAZISMO

Em discurso antes de Dilma, o governador Rui Costa (PT) disse prestar solidariedade em nome do povo nordestino pelas dificuldades enfrentadas. "O Nordeste mudou depois que um nordestino chegou à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva."

Ele afirmou ainda que parte da elite, alguns veículos de comunicação e o judiciário tentam golpe de Estado no país.

O discurso foi interrompido por partidários, muitos vestindo roupas na cor vermelha, novamente com o grito "Lula, guerreiro do povo brasileiro".

Costa criticou os movimentos pró-impeachment, e os comparou ao nazismo. "Na Alemanha, quando o nazismo começou também havia uma amplo apoio popular, [Adolf] Hitler chegou até a estampar capas de revistas como o homem do ano. Hoje, o povo alemão tem vergonha. O mesmo acontece com a Itália atualmente", afirmou.

Nesta quinta-feira (17), a crise política no país foi acentuada, um dia após a divulgação de um grampo telefônico que sugere uma ação da presidente Dilma Rousseff para evitar eventual prisão do ex-presidente Lula.

O dia começou com vigília pelo impeachment ou renúncia da petista na avenida Paulista, em São Paulo, que foi dispersada nesta sexta-feira (18). Os manifestantes, então, fecharam duas pistas da avenida Nove de Julho.

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