Um velho sábio pediu a um jovem entristecido que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e depois bebesse. O jovem assim o fez. Qual é o gosto? - perguntou o velho. Ruim - disse o jovem. O sábio sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal, mas que agora jogasse na água de um lago, do qual estavam próximos. Novamente, solicitou que bebesse um pouco dessa água. Assim foi feito pelo jovem. Qual é o gosto? - perguntou mais uma vez o velho. Bom! - o jovem disse. Você não sente o gosto do sal? - questionou. Não. - respondeu. O velho sábio concluiu: A dor sempre chega para todos. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor ou tristeza, a melhor coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está à sua volta. Dê mais valor ao que você tem, em detrimento do que você perdeu. Em outras palavras, deixe de ser copo, para tornar-se um lago!
Diz um famoso ditado que um copo com água pela metade pode estar meio cheio ou meio vazio. Depende de como pensamos a respeito, de qual é o foco da nossa atenção. É provável que haja mesmo um padrão mental negativo na maioria de nós. Gostamos de dizer que o copo está meio vazio. Vamos refletir? Quando acontece algo ruim, ficamos "remoendo" mentalmente aquilo, gerando stress, ansiedade, desânimo, cansaço etc podendo até mesmo eclodir em doenças graves no corpo, como um câncer, fato já comprovado cientificamente por especialistas. De outro lado, quando nos acontece algo bom, muitas vezes deixamos passar. Não há um devido registro na mente, uma devida valorização e reconhecimento do fato positivo. Nesse caso, normalmente, não temos o hábito de mentalizar, ou seja, pensar repetidas vezes (como fazemos com as "coisas ruins") em tudo aquilo de bom que a vida nos proporciona. Pelo contrário. Parece que preferimos sempre voltar às atenções para as nossas tão queridas queixas e lamúrias.
A mente molda a realidade. Cada um é afetado pela mesma realidade de tão diferentes formas que é como se as realidades fossem diferentes para cada um. Isso está cada vez mais constatado pela neurociência. A mente cria o que vivemos. Muitas vezes, o que é bom fica pequeno ou inexistente e o que era para ser um probleminha vira um problemão. Mesmo quando nos deparamos com grandes desafios, a forma de encarar é o que será determinante para uma maior ou menor carga de sofrimento no enfrentamento da questão. Pessimismo e lamentação só agravam qualquer situação. Para que vou perder tempo e energia com reclamação se isso não me traz nenhuma solução? Até rimou! Essa deveria ser a lógica. Fica a sugestão de frase, como dizem, "para pregar na geladeira". Mais ação e menos "pré-ocupação": ocupar-se com uma realidade futura que só existe na nossa mente. A palavra lamentação também pode ser desmembrada em "lá-mente-ação". Ou seja, a mente está "lá", numa realidade passada, e deixa de viver o "aqui e agora".
Outra conhecida parábola diz que existem dois lobos lutando dentro de nós, um bom e outro mau. Vence aquele que é mais bem alimentado. Qual o lobo mais forte dentro de nós? Quais pensamentos alimentamos mais em nossas mentes? Já parou para pensar quais os tipos de pensamentos estamos pensando a maior parte do tempo? O psiquiatra, psicólogo e escritor, Augusto Cury, reflete que "na era do entretenimento, nunca as pessoas se entristeceram tanto". Criador da "Teoria da Inteligência Multifocal", o autor discorre em seus livros sobre a construção de pensamentos, a formação do "eu" e a organização consciente e inconsciente da memória. Segundo o especialista, "é preciso duvidar de nossas falsas crenças, porque tudo o que nós pensamos nos controla". Dentre outras técnicas, sugere que devemos "pensar antes de reagir, se colocar no lugar dos outros e aprender a distribuir elogios três vezes mais do que criticamos".
Os tempos de crise pelos quais estamos passando exige de nós uma postura ainda mais atenta para preservar a saúde. As manchetes dos efeitos trágicos da pandemia tomam conta dos noticiários e tomarão conta das nossas mentes, se não nos protegermos delas. Portanto, procure estar informado, no que for necessário, mas tenha um limite para não deixar que o excesso de informação seja nocivo à sua saúde mental, provocando medo e ansiedade. Também é recomendável não isolar-se emocionalmente. Ou seja, você pode estar isolado fisicamente, mas deve manter as relações, por meio da tecnologia. Não é a mesma coisa que um contato presencial, mas mantendo um mínimo de comunicação e socialização, podemos continuar mentalmente saudáveis até a possibilidade de voltarmos ao convívio social.
Outra prática importante e necessária, especialmente em períodos difíceis, é a gratidão. Quando buscamos ser gratos, o sistema de recompensa do cérebro é ativado, por meio da dopamina, um importante neurotransmissor que aumenta a sensação de prazer e bem-estar. Por uma outra via neural, a gratidão também estimula a liberação do hormônio ocitocina, que traz tranquilidade, reduz ansiedade, medos, angústias. Pessoas que manifestam gratidão vivem em níveis elevados de emoções positivas, satisfação, vitalidade, bom humor, alegria e otimismo. Fica mais fácil controlar os estados mentais tóxicos e desnecessários. O nosso cérebro não é capaz de sentir, ao mesmo tempo, gratidão e infelicidade.
O conceito é simples de entender, mas ser grato (e olhar sempre o lado cheio do copo) exige "treinamento", um esforço consciente da nossa parte. É preciso praticar, exercitar, de preferência, diariamente. Adotar técnicas e implementar na sua rotina. Já pela manhã, por exemplo, experimente pensar nos diversos motivos que você tem para agradecer. O simples copo de água já é um exemplo, considerando que milhões de pessoas no mundo ainda não tem acesso à água potável. De noite, você também pode listar pelo menos três acontecimentos do dia para agradecer. É importante colocar no papel mesmo. Ao escrever, você "força" a mente a pensar e registrar aquele fato positivo. Pode ser algo bem simples, como o sorriso que recebeu de um familiar. Para o exercício funcionar bem, evite ser genérico e seja o mais específico e concreto possível, pois isso facilita a visualização mental. Lembre-se que é um treino como qualquer outro. No começo a gente não sente os efeitos, é incômodo, mas só com persistência e repetição ao longo do tempo que os resultados virão.
Após vários dias treinando a gratidão, seus problemas parecerão cada vez menores, não porque vão diminuir de tamanho, mas porque você estará maior e mais forte nos "músculos mentais e emocionais". E quando houver um nível mais profundo de consciência e entendimento, será possível reconhecer que até mesmo as crises, dores, dificuldades e tristezas da vida são oportunidades de evolução e aprendizados preciosos que, portanto, também merecem a nossa gratidão.
Fica a dica. Em qualquer hora ou lugar, principalmente nas chamadas horas difíceis: repense, respire fundo, perceba a rica oportunidade de viver, contabilize os recursos, vislumbre as possibilidades, inunde a sua mente de bons pensamentos e - seja feliz!
*Pós-graduado em Direito Público, Analista do Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região, Professor, Palestrante e Escritor, Sul-matogrossense, mas atualmente mora no Rio Grande do Sul.
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