DOURADOS

Sem eventos, “palhaço triste” vai ao semáforo em busca da sobrevivência

Palhaço triste espera que a normalidade volte nos eventos - Fotos: Hedio Fazan/Dourados News Palhaço triste espera que a normalidade volte nos eventos - Fotos: Hedio Fazan/Dourados News

Um tanto quanto incomum, um palhaço triste é o que vê quem passa diariamente pelo cruzamento das avenidas Weimar Torres e Presidente Vargas, centro de Dourados. O personagem que trabalha há muitos anos com animação em eventos, diante da pandemia do coronavírus, com proibição de aglomeração e consequente impacto negativo no seu ramo de atuação, optou por ir aos semáforos em busca da sobrevivência.

Com alguns balões em mãos e uma espécie de marreta de brinquedo, Anderson Domingos da Silva, 46, conta que não tem motivos para 'sorrir' e que escolheu ir ao ponto fantasiado, todos os dias, para pedir ajuda aos populares para sobreviver.

“Me vi obrigado a pedir esmola praticamente e é muito triste para mim isso. Eu não consegui emprego em outra área. Ser palhaço é o que sei fazer da vida, mas não tenho as festas de antes para atuar, então vim para cá pedir ajuda”, disse.

Casado e pai de dois filhos, o palhaço conta que momentaneamente optou por deixar os pequenos com a avó materna em Cuiabá-MT, para que tenham garantia de qualidade de vida e mantimentos, mas envia sempre que pode valores para auxiliar. 

Questionado sobre como a realidade dele mudou com a pandemia, Anderson faz um comparativo de como foi outubro do ano anterior e o outubro deste ano.

“Em 2019, fiz 26 eventos em outubro. Nesse ano, com muito custo fiz um, após vários meses sem nada”, conta.

“O sorriso de uma criança, muda o dia de qualquer um”, comenta.

No semáforo não há música, brincadeiras ou gincanas. Anderson justifica ainda a falta de sorrisos no cruzamento movimentado da cidade diante da pressa e do semblante preocupado de quem passa por lá. 

“Aqui não tem animação. A maioria das pessoas está preocupada, correndo para garantir 'o seu' também. Alguns são arrogantes, outros ajudam com o coração, tem todo o tipo de pessoa”, conta.

A arte encantou o palhaço que fez dela um modo de sobreviver há muitos anos. Ele conta que ainda adolescente trabalhou no circo na montagem e desmontagem das lonas e depois com venda de doces e brinquedos, quando teve o rosto pintado por outros funcionários e iniciou então sua trajetória com animação de pequenos grupos. 

Anos depois quando estava desempregado, optou por novamente pintar a face e levar alegria às pessoas. Desta forma, ele já “rodou” por muitas cidades no Paraná, Santa Catarina, Rondônia, Acre e no Pará, antes de chegar em Dourados, onde mora há cinco anos.

“Eu me encantei com essa cidade. Vi aqui muitas oportunidades, apesar deste momento difícil sou feliz aqui e espero que as coisas logo voltem a normalidade”, apontou.

Mesmo diante das dificuldades enfrentadas atualmente, o palhaço fala sobre “compartilhar” e conta que divide o que ganha no semáforo com outras duas famílias que moram na mesma pensão que ele e também tem enfrentado escassez de recursos financeiros e o desemprego.

Questionado sobre quanto costuma levar para a casa no fim do dia, Anderson diz que às vezes só algumas moedas, mas outras vezes, alguns “anjos” ajudam mais e dá para tirar um valor melhor. Outras doações, conforme ele, também vem em forma de alimentos ou outros produtos, o que ele diz ser “bem vindo”. 

O “palhaço triste” cita que está disponível para eventos, e que promete levar alegria para os que o contratarem. 

“Não vou ter motivo para ficar triste, quando voltar aos eventos, quando acontecer de me contratarem. A animação é o que sei fazer e vou saber que o meu sustento estará garantido de novo”, disse. 

 

 

 

 

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