Das sete vítimas já descobertas do “Pedreiro Assassino”, que agiu em Campo Grande por pelo menos cinco anos, só uma família conseguiu por enquanto dar o “último adeus”, com o sepultamento do corpo de José Leonel Ferreira dos Sandos, 61 anos, achado enterrado no quintal de casa no dia 7 de maio. Para as outras seis pessoas mortas por Cleber de Souza Carvalho, 43 anos, segundo confissão à polícia, o estado dos restos mortais - a maioria deles apenas ossadas - dificulta a identificação documental e consequentemente a liberação para os funerais.
Não há prazo para isso. Em geral, costuma levar entre 10 e 15 dias, mas pode chegar a 60, segundo esclarecimento da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) à consulta da reportagem.
“Vai ser preciso exame de DNA para a maioria”, explicou a diretora do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), Glória Suzuki.
Como é feito – A explanação obtida junto a profissionais da perícia é de que os processos para identificação de pessoas mortas por causas violentas começam de forma visual. Depois, a tentativa é pelas impressões digitais. Quando não é possível assim, tenta-se por meio da arcada dentária, mas para isso é preciso obter algum tipo de arquivo odontológico da pessoa, como exames de raio-x.
O DNA é a última opção. Em razão de os corpos das vítimas do "Pedreiro Assassino" terem ficado debaixo da terra, um deles por quase cinco anos, essa será a forma de confirmar legalmente de quem se trata usada, ainda não se sabe para quantos cadáveres.
A Sejusp, ao responder ao Campo Grande News, alertou que as famílias dos mortos devem acompanhar o trabalho do Imol para saber quando poderão fazer os funerais. Ainda segundo a reportagem apurou, nem todas as vítimas já foram procuradas por parentes.
Os casos – A cronologia revelada até agora indica que o assassinato mais antigo atribuído ao “Pedreiro Assasino” é o de Flávio Pereira Cece, 39 anos, primo de Cleber de Souza Carvalho. Ele foi encontrado enterrado na casa onde morava, na Rua Corredor Público, no Residencial Atlântico Sul, imóvel já dividido com a família de criminoso em série.
Flávio sumiu em 2015 e sequer havia registro policial sobre isso.
Em 26 de novembro de 2016, pouco mais de 3 anos atrás, o catador de recicláveis e jardineiro Hélio Taíra, 74 anos, teve o desaparecimento registrado na Polícia Civil. A ossada só foi achada agora, na sexta-passada (15), debaixo de concreto em residência na Rua Grécia, na Vila Planalto.
Cleber confessou ter contratado o senhor para capinar parte do terreno onde trabalhava em uma obra e disse tê-lo matado depois de desentendimento. Taíra tinha uma camionete, encontrada dias depois do sumiço.
Em 23 de junho de 2018, foi comunicado às autoridades policiais o sumiço de Roberto Geraldo Clariano, de 48 anos. O cadáver dele foi desenterrado agora, à beira da Rua José Barbosa Rodrigues, no Bairro Santo Amaro. Lá, também foram localizados boné, meia, sapato e uma picareta, ferramenta usada para matar a vítima.
O homem preso pelo homicídio disse que nesse caso, os dois estavam limpando um lote para invadir e também houve briga.
A partir de 16 abril de 2019, quem não se viu mais foi Claudionor Longo Xavier, 47 anos. Igualmente, foi encontrado morto e enterrado, na sexta-feira à noite. Os restos mortais estavam em terreno próximo da Rua Ráza, sem número, no Bairro Sírio Libanês.
O crime, conforme a versão do “Pedreiro Assassino”, teve a ver com discussão relacionada a uma área em que vítima e algoz teriam investido juntos. O pedreiro, apontam as investigações, vendeu a motocicleta de Claudionor depois de atingi-lo com paulada na cabeça, método usado em todos os casos. O veículo foi recuperado após a descoberta do corpo na semana passada.
José Jesus de Souza, de 45 anos, outro assassinado pelo criminoso serial, havia sumido em fevereiro deste ano. Vindo da Bahia, não tinha parentes por aqui. Ninguém comunicou o caso à polícia. Assassinado por Cleber, foi enterrado em cova rasa no mesmo endereço onde estava Claudionor Longo Xavier.
Fio da meada - Todos os casos vieram à tona, com a descoberta do crime envolvendo José Leonel Ferreira dos Santos, 61 anos, pela equipe da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio).
Familiares do comerciante estranharam a ausência dele, inclusive no Whattsapp, por onde se falavam frequentemente, foram até à casa, na Rua Raul Machado, na Vila Nasser, e encontraram a esposa de Cleber, Roselaine, 40 anos, e a filha dele, Yasmim Natacha, de 19 anos, vivendo no imóvel.
A polícia foi acionada, esteve no lugar e a mulher de Cleber relevou toda a trama macabra. Antes disso, ele fugiu.
Com a prisão preventiva decretada pela Justiça, acabou sendo capturado na sexta-feira, 15 de maio, de madrugada, pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, na casa de familiar no Jardim Presidente, região norte da cidade. Inicialmente, confessou quatro mortes, além da de José Leonel, indicando os locais onde enterrou os corpos.
Entre a noite de sexta-feira e a tarde de sábado (8) admitiu mais dois assassinatos, o de Claudionor Longo Xavier e, ainda, de Timóteo Pontes Romã, 62 anos.
O aposentado Timóteo, conhecido no bairro pela atuação em supermercado na Avenida Tamandaré, contratou o “Pedreiro Assassino” para fazer a calçada da residência onde vivia, sozinho, e acabou vítima de paulada na cabeça. Neste caso, o matador jogou o corpo em poço desativado nos fundos do quintal, a 10 metros de profundidade.
Vizinhos chamaram a polícia no sábado (16) depois de sentir mal cheiro vindo da casa e de associarem ao matador preso um dia antes.
Para localizar os restos mortais das vítimas, foi preciso operação envolvendo integrantes do Batalhão de Choque, do Corpo de Bombeiros, da DEH e também da perícia da Polícia Civil.
Cleber está em uma cela do Cepol (Centro Integrado de Polícia Especializada), onde fica a DEH. A filha dele está no presídio feminino e a esposa foi liberada com uso de tornozeleira por decisão judicial.
Contra o "Pedreiro Assassino", pesam sete acusações de homicídio e mais sete de ocultação de cadáver. As mulheres respondem por ocultação de cadáver. A investigação apura, ainda, a venda de bens das vítimas, como veículos e imóveis.
Denúncias - O titular da Delegacia, Carlos Delano, faz levantamentos para saber se há mais vítimas, inclusive a partir de denúncias da comunidade. Informações nesse sentido podem ser fornecidas em dois números de WhatsApp: o (67) 99238-4923 e o (67) 3318-9026. O fixo e o celular só funcionam para mensagens.
Comentários