A mulher que era cozinheira de mão cheia e conquistou fãs com yakisoba e sobá descansou no último dia 13
O tempero de Lucia Suzuki conquistou primeiro a família, depois amigos e por último clientes que frequentavam as feiras que ela participava desde 2018. A mulher que amava cozinhar sabia preparar de um jeito único o sobá e yakisoba. No dia 12 de março, Lucia participou de sua última feira e no dia seguinte descansou, aos 62 anos.
Lucia foi a primeira da família a levar os pratos, que antes ficavam restritos a reuniões em casa, para outros lugares. Após trabalhar 10 anos como agente de viagens, ela se reinventou e começou uma nova fase de vida com a Cozinha Suzuki’s.
O negócio começou com a refeição favorita dos familiares. Priscila Suzuki Donoso, de 28 anos, comenta que a mãe sempre dizia que um dia iria vender yakisoba.
“Todo mundo elogiava muito os pratos que ela preparava, principalmente o yakisoba que ela sempre fazia quando reunia a família. E toda vez ela e minhas tias falavam que um dia iam fazer pra vender, que todo mundo iria amar. Em 2018, ela e minha tia resolveram fazer yakisoba sob encomenda”, conta.
Para conquistar o público, a empreendedora passou a participar das feiras realizadas na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Na universidade, servia harumaki e yakisoba. Não demorou e Lucia ganhou espaço em outras feiras da Capital onde fazia sucesso com a gastronomia.
“Quando começaram a liberar as feiras ela foi com tudo e vendia muito bem. Eu fui em uma feira de condomínio com ela e nessa feira ouvi muitos elogios de clientes assíduos que amavam os pratos”, afirma Priscila.
Dedicada ao trabalho, Lucia adorava o agito das feiras, que proporcionavam amizades com feirantes e amigos. “Ela contava várias histórias sobre os amigos feirantes e dos escambos que faziam para provarem os produtos de cada um”, diz Priscila.
Além de Priscila, a feirante tinha outros dois filhos, Bruna Suzuki Donoso e Victor Suzuki Donoso. O jovem, de 24 anos, ajudava a mãe nos eventos junto com outras duas primas.
Várias versões - Carinhosa, boca suja, acolhedora e vaidosa. Lucia não era uma só e sim várias. Por isso, para Priscila, é difícil resumir que era a mãe.
“O primeiro adjetivo que vem em mente é boca-suja. Ela sempre foi bem direta com tudo que tinha pra dizer e não poupava os palavrões. Ela era muito vaidosa e sua marca registrada era o batom vermelho”, fala.
A cozinheira também esbanjava bom humor e vivia com um sorriso no rosto. Lucia cuidava de todos à sua volta, demonstrava carinho, tinha um modo sutil de encarar a vida.
“Ela apoiou a gente em cada escolha que fizemos, mesmo que ela não entendesse. Ela levava a vida com muita leveza e era muito mente aberta. Ela tinha um carinho e um cuidado muito especial por todos a sua volta, sempre tentando ajudar no que podia”, destaca Priscila.
Entre as pessoas que sentiram de perto esse carinho está a feirante Michele de Andrade, 46 anos. O carinho das duas não veio logo no primeiro contato, Michele é sincera e expõe que de primeira ambas não se ‘bicaram’.
“Nossa amizade começou com uma briga, a gente tinha o mesmo ideal, vontade e intenção de fazer acontecer uma feira. A nossa amizade começou ali, falam que dois bicudos não se bicam, a gente não se bicou de primeira”, ri.
Mas a amizade começou a seu próprio modo, se fortaleceu e nos últimos 30 dias sem acordar sem a mensagem da amiga, Michele não segura a emoção e chora. “Horas antes de ter o infarto, ela mandou uma mensagem e por essa mensagem que continuo nas feiras”, revela.
Michele encontra vários elogios para a mulher que chamava de ‘mamacita’. “A Suzuki, falar dela é falar de compressão, amor, compaixão, amizade. Ela não desistiu de mim, sempre ficou próxima e foi aí que comecei a chamar ela de mamacita”, comenta.
Nos eventos, as barracas das feirantes ficavam próximas e Michele cansou de ver o povo formar fila para experimentar as refeições da amiga. “Quando o pessoal sabia que ela estava fazendo feira eles vinham de outros condomínios para pegar a comida. O sobá dela era diferente, ela era muito conhecida, a popularidade, era uma japonesa fora de série”, frisa.
Nos momentos delicados que atravessava, Michele encontrava na Lucia conforto. “Ela não era assim só comigo, ela ajudava todo mundo. Por mais que as coisas estivessem ruim, ela achava um lado bom das coisas, falava que tudo iria dar certo na hora de Deus”, relata.
A feirante que era amor, compreensão e de alma sublime deixa três filhos, sobrinhas, irmãs e os cachorros que eram sua paixão.
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