A obesidade infantil tem crescido de forma sistemática no Brasil e é hoje uma das maiores preocupações de todos os que lutam para que as crianças tenham um desenvolvimento saudável.
Fazer a criança comer bem certamente é uma das maiores preocupações dos pais com relação à saúde dos pequenos, mas a responsabilidade por uma alimentação de qualidade vai muito além da família e da criança.
Toda a sociedade e o governo precisam agir juntos para garantir uma primeira infância saudável e longe da obesidade infantil.
Ontem, a pedido de Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife, o Dr. Nelson Ans Neumann, Coordenador Internacional da Pastoral da Criança, foi recebido pelo Ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, para apresentar sugestão de normas para comercialização, propaganda, publicidade e promoção comercial de alimentos, preparações e bebidas disponibilizadas nas cantinas das unidades escolares que atendam à educação básica, das redes pública e privada, em âmbito nacional.
Os dados comprovam que Dom Fernando tem mesmo com o que se preocupar. A obesidade infantil entre as crianças de 5 a 10 anos, em Pernambuco, segundo dados do Sisvan-web (2016), está em 17%, enquanto a média no Brasil é de 13%.
Ou seja, em Pernambuco o aumento de crianças obesas está 27% acima do nacional. E, a cada ano, aumenta mais a proporção de crianças obesas em todo Brasil.
Segundo Pedro Curi Hallal, Reitor da Universidade de Pelotas, que estuda o tema há décadas, "políticas que restringem a disponibilidade de bebidas e alimentos saudáveis dentro da escola podem promover a redução de influências negativas no processo de desenvolvimento de hábitos alimentares.
Quanto mais promotor de saúde for o ambiente no qual a criança está inserida, maiores serão as chances de que ela desenvolva hábitos saudáveis".
Para o Dr. Carlos Augusto Monteiro, Coordenador do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, fatores ambientais, tais como: o crescimento econômico, a urbanização e a mudança nos padrões de consumo alimentar, estão mais internamente ligados à epidemia da obesidade no Brasil e no mundo.
Assim, a responsabilidade individual por um estilo de vida saudável é limitada pelo ambiente social, especialmente das ações inapropriadas da indústria de alimentos.
Segundo Monteiro, "as crianças de famílias de baixa renda, filhos de mães com menor escolaridade e residentes em domicílio em situação de insegurança alimentar grave nas regiões mais carentes do país são mais vulneráveis e apresentam menor chance de ter uma dieta saudável.
Essa situação gera impactos importantes na saúde e deve ser um tema prioritário nas agendas das famílias e das autoridades.
Nesse contexto, cabe ao poder público a execução de programas, políticas e ações que promovam sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis que unam agricultura, alimentação, nutrição e saúde.
É necessário fomentar a produção sustentável de alimentos frescos, seguros e nutritivos, garantir a oferta, a diversidade e o acesso, principalmente da população mais vulnerável".
Na contramão dessa orientação, as vendas de alimentos ultraprocessados vêm crescendo muito no Brasil e, de modo geral, em todos os países de renda média.
Além disso, pesquisas de compra de alimentos para consumo familiar indicam a redução dos alimentos naturais ou minimamente processados, como frutas, vegetais, arroz e feijão.
Tudo isso indica que muitas famílias têm deixado de cozinhar e consumir pratos tradicionais e aumentado a ingestão de alimentos ultraprocessados, prontos para o consumo.
Estes apresentam alta densidade de calorias, acúcares, gorduras, sódio e aditivos químicos e baixa de micronutrientes, sendo nutricionalmente inadequados especialmente para crianças em plena fase de crescimento e desenvolvimento.
Essa situação gera impactos importantes na saúde e deve ser um tema prioritário nas agendas das famílias e das autoridades.
A Pastoral da Criança, por meio da atuação dos líderes comunitários no acompanhamento de gestantes e crianças, já contribui de forma significativa na luta contra a obesidade infantil.
Nas visitas domiciliares, com o Guia do Líder em mãos, os líderes orientam as famílias acompanhadas sobre o pré-natal, aleitamento materno, alimentação saudável e o desenvolvimento infantil. E ainda vai além, com as ações:
Acompanhamento Nutricional, que promove a avaliação do estado nutricional das crianças e a orientação adequada para as famílias.
Brinquedos e brincadeiras na comunidade, que além de promover o exercício, a interação entre as crianças, ajuda a construir a autonomia das crianças, usando, muitas vezes, brinquedos feitos com sucatas e construídos com a ajuda das próprias crianças.
Atua em Rede com todos os atores na comunidade que defendem e lutam pelo desenvolvimento integral da criança, em especial as equipes da Estratégia Saúde da Família e a Assistência Social (agora também com os visitadores do Criança Feliz).
Auxilia no entendimento das famílias, especialmente às que possuem crianças na pré-escola, quanto aos benefícios e limites das unidades escolares - que estas não substituem o papel familiar, a importância das atividades realizadas para a socialização da criança, o estímulo à autonomia etc, que são tão importantes quanto a pura alfabetização.
Segundo Dr. Nelson Arns Neumann, todos deveriam perceber que é urgente a necessidade de combater o crescimento da obesidade infantil e essa é uma luta para toda a sociedade: "há um jeito de fazer isso e parte da premissa que devemos ofertar para a criança comida de verdade.
Os alimentos industrializados tem excesso de açúcar, gordura, sal, além de aditivos químicos e isso não é bom.
Fazer a comida com ingredientes frescos e naturais, é a certeza de comer algo que vai fazer bem e trazer muitos benefícios. Tanto na família quanto na escola".
Em 2018, a Pastoral da Criança, com o apoio de diversas entidades, entre elas a Universidade Federal de Pelotas e o Padre Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar, pretende desenvolver uma campanha nacional sobre o tema. Afinal, a luta contra a obesidade infantil é de todos e urgente.
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