Recorde mundial, recorde asiático, recorde sul-americano e recorde da Oceania. As marcas dos quatro primeiros lugares deixam claro o alto nível da final dos 400m T38, para atletas com problemas na coordenação motora, na manhã desta quarta-feira, no Estádio Olímpico. Motivo de sobra para Verônica Hipólito comemorar a medalha de bronze, sua segunda nos Jogos Paralímpicos do Rio - foi prata nos 100m - e que, de quebra, fez o Brasil superar o desempenho de Londres em números absolutos: 44 a 43. Agora, o país está a três de igualar Pequim, na melhor campanha da história. A britânica Kadeena Cox voou para 1m00s71, na melhor marca de todos os tempos, com a chinesa Chen Junfei completando o pódio.
"Isso é alto rendimento. Queremos sempre mais, mais, mais... Quando falam que um tempo não vai baixar, que um salto não vai aumentar, você fala: "Vai, sim!". Estou há pouco tempo treinando com o pessoal da seleção brasileiro, tenho muito a melhorar e vou melhorar. Saio daqui com o dever cumprido".
Verônica fez questão de compartilhar a alegria pelo bronze com o departamento médico. A brasileira sentiu um problema muscular na panturrilha esquerda durante a prova do salto em distância, domingo, e viu a participação nos 400m ficar em risco:
"Essa medalha está bem dividida e vão ter umas pessoas lá fora que vou fazer questão que tirem foto com a medalha. Não sei quanto valeu o ouro ou a prata, mas esse aqui é meu ouro. Para quem não estava conseguindo andar depois do salto (em distância), eu não podia me dar o direito de dar menos do que o meu melhor".
Apelidada carinhosamente pelos amigos por conta dos 48kg distribuídos em 1,58m, Verônica impulsionou sua participação na Paralimpíada com a frase "Vai, Magrela" em cada post em suas redes sociais. E ela foi! Foi ao pódio, como esperado. Inscrita em três provas, foi prata nos 100m, bronze nos 400m e terminou em oitavo no salto em distância em sua primeira participação paralímpica, aos 20 anos.
A paulista deu os primeiros passos no esporte aos 10 anos, no judô. Dois anos depois, a descoberta de um tumor no cérebro a impediu de seguir nos tatames. Sem poder sofrer com o impacto das quedas, buscou no atletismo um novo refúgio. Mas aos 15 anos veio outro susto. Um AVC deixou como sequela paralisia no lado direito de seu corpo. Ela seguiu nas pistas, mas a partir de então passou a voar com o status de atleta paralímpica. Tornou-se um prodígio, e aos 17 anos, sagrou-se campeã mundial dos 200m da classe T38.
Apesar do início arrasador, Verônica sofreu outro baque no ano passado. Um exame diagnosticou a existência de mais de 200 pólipos no intestino grosso, e 90% do órgão precisou ser retirado. A atleta, que já tinha dificuldade para ganhar peso, chegou a pesar 41kg. Não pode competir no Mundial de Doha e demorou a ter aval médico para voltar a treinar.
Recuperada, chegou ao Rio para mostrar que ainda era, sim, tudo aquilo que esperavam dela após o título nos 200m e a prata nos 100m no Mundial de Lyon 2013. As duas medalhas deixam a sensação de dever cumprido, e de quem vem muito mais por aí.
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