CARNICULTURA

Agrônomo reproduz água do mar para cultivar camarões em Dourados

Essas larvas estão com 30 dias de cultivo - Crédito: Hédio Fazan/Dourados News Essas larvas estão com 30 dias de cultivo - Crédito: Hédio Fazan/Dourados News

Em um futuro bem próximo, os consumidores douradenses e de várias regiões do Estado terão condições de comprar camarão fresquinho cultivado aqui mesmo, na maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul. O projeto experimental, idealizado pelo agrônomo Maurício Xavier Curi, prevê uma nova cadeia de produção para a economia sul-mato-grossense nos próximos anos.

Aos fundos de um antigo pesqueiro localizado na região do Portal de Dourados, o produtor montou uma estrutura com dois tanques contendo 20 mil litros de água cada. Alí o douradense conseguiu reproduzir as mesmas condições químicas presentes na água do mar. 

Em entrevista ao Dourados News, ele explicou que para reproduzir o ambiente natural de criação do camarão, foi preciso aplicar 500 quilos de sal, além de outras substâncias que garantem o balanço químico responsável pelo equilíbrio iônico da água. 

Nesses tanques foram colocados 150 mil larvas. 

No primeiro espaço, montado há 30 dias, os filhotes já são facilmente vistos a olho nu. Lá estão 30 mil unidades de camarão em cultivo. No outro tanque, foram colocados 120 mil embriões da espécie. Esses chegaram na terça-feira passada (7) e ainda estão com tamanho quase que invisível para ótica natural. 

Maurício conta que a ideia surgiu entre cinco piscicultores, que o procuraram para avaliar a proposta tendo como referência a iniciativa em outros estados. Ele, que já atua no cultivo de peixes há anos e possui formação técnica para elaboração e execução do projeto, assumiu a responsabilidade de produzir as larvas e distribuí-las posteriormente em condições de criação avançada. 

“Esse processo inicial demanda uma estrutura técnica muito exigente. Garantir a sobrevivência dessas larvas não é simples e a tecnologia que estamos usando é extremamente inovadora no interior do Brasil. Daqui essas larvas vão para os produtores já em estágio avançado para criação até as etapas de venda”, conta.

Ao todo já foram investidos R$ 150 mil na estrutura do ‘berçário’ e ainda há muito o que se fazer. Na primeira fase do investimento experimental, a taxa de sobrevivência das larvas foi de 50%. Já no segundo, dos 120 mil embriões, a expectativa é de que sobrevivam 90%. 

A iniciativa trouxe para o pequeno produtor a possibilidade de trabalhar em um mercado que possui registros de investimentos milionários. No entanto, o trabalho técnico do engenheiro douradense otimizou esses custos, flexibilizou as etapas de produção e ainda viabilizou uma nova perspectiva para quem já atua nessa área. 

REAPROVEITAMENTO

A grande vantagem do cultivo do camarão proposto por Maurício é o reaproveitamento da água preparada. Ele explica que através do tratamento químico e do controle biológico, esses 20 mil litros de água serão responsáveis pela criação de 3 a 4 ciclos de cultivo. Isso representa reuso da mesma água ao longo de um ano. 

“Dessa forma a gente evita o descarte dessa água na natureza, preserva o investimento e tem um aproveitamento muito maior na nossa produção”, conta. 

Todos os dias, nessas fases iniciais, os camarões em cativeiro são alimentados com um quilo de ração e açúcar cristal sem melhoradores químicos. O engenheiro explica que a estratégia é alimentar tanto o camarão quanto as bactérias que as larvas utilizam na dieta nutritiva.

O ciclo de criação do camarão, desde o estágio larval até o tamanho ideal para consumo, dura 100 dias. O valor agregado desses artrópodes prevê custo de R$ 25 a R$ 30 o quilo no comércio atacado.

“O consumidor vai encontrar camarão fresco, camarão de água salgada, produzido aqui mesmo onde ele vive. Esse projeto conseguiu trazer pra dentro do interior de Mato Grosso do Sul a mesma água que esses camarões encontrariam no mar. Isso é inovação e tecnologia para nossa produção rural e quem vai ganhar é a economia do Estado. Eu vejo uma nova cadeia produtiva surgindo para o MS”, conclui Maurício.

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