Em meio à crise dos refugiados na Síria, diversas histórias familiares e chocantes surgem. Muitas vezes deixar o país em negociação com criminosos é a opção de muitas das pessoas que tentam chegar à Europa. A história de Zizit e sua filha é uma dessas. Médica em um hospital de Damasco, a mulher não viu outra opção além de fugir do país após ter sido ameaçada de morte por militantes islâmicos. Ela havia se negado a trabalhar para eles e desde então passou a ser perseguida.
"Não fiquei feliz em deixar a Síria, amo meu país. Saí por causa do meu bebê, não por mim", confessou a mulher em entrevista à BBC.
Foi aí que deu início o trajeto de Zizit, seu irmão Ghassan e sua filha Maya em direção ao continente europeu. Da Turquia à Grécia, eles sofreram um golpe por parte do primeiro atravessador, que levou o equivalente a R$ 50 mil reais deles e não realizou a travessia.
Encontraram outro e, ao chegar lá, eles procuraram os bares onde se sabe que os traficantes de pessoas frequentam. Lá conheceram Abu Shabab que ofereceu a elas passaportes brasileiros falsos e uma viagem à Suécia. Zizit teria que pagar cerca de 17 mil reais para ser levada ao novo país e mais 4 mil para Maya. No entanto, mãe e filha não poderiam viajar juntas.
De acordo com o traficante, um cidadão realmente europeu deveria a levar para conversar com as autoridades caso houvesse algum problema. Ele, sírio com cidadania sueca, se faria passar por pai da criança.
Apesar de não gostar muito da ideia, a mãe não via outra possibilidade de chegar a algum lugar mais seguro e, por isso, confiou e deixou Shabab levar Maya. Apenas cinco dias após conhecê-lo, a mulher síria entregou sua filha ao homem, que havia garantido que elas entrariam no mesmo vôo, mas apenas separadas.
O mais terrível aconteceu quando a documentação falsa de Zizit foi identificada como falsa pela alfândega, que proibiu sua saída do país. Ela foi obrigada a voltar do aeroporto e reencontrar seu irmão. Algumas horas depois Abu Shabab, em um hotel na Itália mandou notícias dizendo que havia dado comida e banho em Maya e que tudo ia se ficar bem.
"Fiquei aliviada e um pouco mais calma. Disse a ele o que tinha acontecido e ele me perguntou: 'onde eu deixo a sua filha? Preciso de alguém que você conheça - não a polícia ou um centro de refugiados'", contou Zizit em entrevista à BBC.
Ela então se lembrou de uma colega síria refugiada que estava na Alemanha. O traficante, apesar de criminoso foi bom e deixou Maya com Hasna, na cidade de Dortmund, para que ele fosse cuidada até a chegada da mãe.
Desesperada, Zizit não sabia como chegaria à Alemanha. Uma semana depois, um dos contatos de Abu Shahab deu a ela uma passagem para a Áustria e um passaporte italiano desta vez.
No trem de ida, Zizit foi acordada por um policial pedindo seu passaporte. Para sua surpresa o guarda pediu que ela falasse italiano, mas o nervosismo tomou conta e ela confessou ser síria e estar no país apenas para buscar sua criança. O fiscal então respondeu que ela ficasse calma, já que estava segura.
"Os alemães são muito bons - eu era uma criminosa e estava ouvindo: 'não se preocupe, você está em segurança agora'. Na Síria, teriam me enforcado", contou Zizit.
Após 20 dias separada da filha, elas finalmente se reencontraram graças a diversas boas pessoas que cruzaram seus caminhos e possibilitassem a história entre mãe e filha ter um final feliz. Um ano após o ocorrido foi suficiente para que elas se restabelecessem e fossem registradas novamente, desta vez como refugiadas na cidade de Dortmund, onde iniciam uma nova vida.
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