Érica Simone Almeida Coelho, 27 anos, faleceu na madrugada deste sábado (11) em Campo Grande, depois de ficar uma semana internada no Hospital Geral do Exército. A causa da doença ainda é misteriosa. Uma das supeitas é que ela tenha sido vítima de dengue hemorrágica, o que ainda não foi confirmado. O caso traz à tona os desafios que doenças infecciosas transmitidas pelo Aedes Aegypti ainda apresentam para a medicina, em especial na saúde pública. Mortes repentinas, sem explicação entre os médicos, também acabam espalhando pânico nas pessoas.
Esta época do ano é marcada pelo aumento de casos das doenças transmitidas pelo Aedes, como a dengue, o zika vírus e a febre chikungunya. Em 2016, também no início do ano a adolescente Karolina Ribeiro Soares, 16 anos, faleceu, com suspeita de dengue. A jovem morreu no dia 13 de janeiro no Hospital Regional Rosa Pedrossian, após duas consultas no CRS (Centro Regional de Saúde) do Bairro Coophavilla, durante o fim de semana.
À época, como ela não foi internada, os médicos disseram à família que descartavam dengue, por conta de um exame que mede as plaquetas do sangue, os familiares passaram a suspeitar do Zika vírus.
A estudante de 33 anos, Leika Pereira Campos faleceu em fevereiro de 2016, também com suspeita de dengue. Ela morreu no Hospital Regional, depois de dois dias internada na unidade.
Ainda não há, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), casos de morte por dengue até o último levantamento realizado pela Secretaria. O caso da publicitária Érica, no entanto, volta a levantar a suspeita e pode ser o primeiro caso de morte por dengue em Mato Grosso do Sul, este ano.
Desafio para a medicina
Médica infectologista, Andyane Tetila trabalha no Hospital Universitário e relata que dengue, zika e chikungunya são um desafio constante, não só para a saúde pública, mas para a medicina em geral. As doenças aumentaram nos últimos dois anos em todo o país. No Estado, já são 1.587 casos suspeitos de dengue, 1 confirmado de Zika vírus e 7 confirmados de febre chikungunya. A principal dificuldade, acordo com a médica, são os sintomas, praticamente iguais.
"Na verdade independente de ser privado ou público, a maior dificuldade é em relação aos sintomas, que são muito semelhantes. Os sintomas iniciais são praticamente os mesmos, que são febre, dor muscular, dor nas juntas, cefaléia, e como os sintomas são muito inespecíficos, vem a dificuldade de se fechar um diagnóstico a partir do primeiro contato com o paciente. A partir daí segue a investigação, com a solicitação de exames específicos, e a partir daí, tanto no privado quanto no público tem uma certa demora, nem todos os exames são feitos no município e acaba tendo uma lacuna" explica ela.
A demora na identificação, ainda assim, pode não ser proporcional a evolução do quadro, mais uma dificuldade trazida com as doenças do Aedes."Isso é muito individual, particularizado, cada paciente vai se manifestar de uma forma frente à uma doença, independente do diagnóstico ou não. Alguns vão ter uma evolução muito rápida e grave. Depende muito do estado do indivíduo, de como ele vai se portar em frente a uma doença infecciosa, é muito particularizado", acrescente a médica.
"É necessário o profissional estar sempre atento e atualizado, e atendo a vigilância epidemiológica do seu município, no nosso Estado, pra saber o que está circulando e os casos que estão tendo maior prevalênciua, pra saber no momento de ter o contato com esse paciente apresentando esses sintomas, ficar mais atento no diagnóstico e já ir conduzindo a doença e entrar com as condutas o quanto antes", complementa.
Perda sem explicação
Alguns quadros, no entanto, até hoje estão sem resposta e deixam, para quem perde entes queridos, o desafio de seguir. Douglas de Morais Fernandes perdeu a esposa Priscilla Sampaio, em setembro de 2015. A jornalista ficou internada em um hospital particular, após sentir tonturas e dificuldades de respirar. A morte, que ocorreu em 48h, ainda não teve a causa identificada. Douglas relata que o caso da esposa foi a primeira coisa "que lhe veio a cabeça", ao ler a notícia da publicitária Érika.
"Quando li as notícias, na hora me veio o que aconteceu, foi exatamente isso. Na verdade, quando aconteceu, esses exames de cultura, de bactérias, demoram a ficar prontos e por mais que ela tivesse falecido, eu acreditava que teria alguma resposta. Só que a resposta foi toda negativa. A única forma de descobrir seria, antes de fazer o enterro, de fazer uma biópsica", contou ele.
O que diz a saúde pública
Procurados, a Prefeitura e o governo do Estado, para saber sobre o preparo dos profissionais de saúde e sobre a orientação nas unidades de saúde, responsáveis, muitas vezes, por direcionar pacientes para locais com atendimento especializado e hospitais.
A Sesau (Secretaria municipal de saúde pública) afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que os profissioanais recebem capacitação periódica.
"Os profissionais das UPAs e CRSs, bem como das unidades básicas de saúde recebem capacitação periódica, ao menos duas vezes ao ano, orientando para identificar os casos suspeitos dessas doenças. Há ainda o envio das Notas Técnicas (NT) informando os profissionais quanto as medidas a serem praticadas nos casos específicos", afirmou.
"Quando há uma morte suspeita em qualquer unidade de saúde, seja ela 24h ou hospital, é realizada a investigação para levantar dados relacionados ao óbito, como a visita hospitalar e domiciliar, a fim de coletar mais informações que ajudem no diagnóstico preciso do falecimento", complementou.
Até a conclusão da matéria, a SES ainda não emitiu posicionamento.
Comentários