JARDIM NOVO HORIZONTE

Crescimento de bairros afastados do Centro trouxe oportunidade para quem quis empreender em Dourados

Rua Lindalva Marques Ferreira, na região do Jardim Novo Horizonte. - Crédito: Vinicios Araújo/Dourados News Rua Lindalva Marques Ferreira, na região do Jardim Novo Horizonte. - Crédito: Vinicios Araújo/Dourados News

Com o crescimento dos bairros em Dourados, a economia da cidade foi diretamente beneficiada, principalmente no desenvolvimento comercial dessas localidades. Neste mês o Dourados News traz uma série de reportagens mostrando o avanço dessas áreas e as histórias de quem decidiu aproveitar a oportunidade para empreender e gerar renda. 

Hoje vamos falar sobre a região do Jardim Novo Horizonte, que ao longo dos últimos 10 anos viu a sua população praticamente dobrar com a abertura de condomínios residenciais e loteamentos. 

Quem vive ali garante que muita coisa mudou, principalmente na infraestrutura dos bairros ao entorno e na consolidação de um comércio vívido e valorizado pelos moradores.

A lojista Lúcia Luzitane, 62, mora há 21 anos na Avenida Lindalva Marques Ferreira, principal via de acesso à região. Ela conta que quando chegou, vinda com a família do Estado do Paraná, o bairro ainda tinha ruas de terra, era rodeado pelo matagal e as opções de comércio eram quase inexistentes.

Incentivada por uma irmã que já morava na cidade, Lúcia ficou bastante desanimada ao pisar em terras douradenses. A expectativa era viver em uma área desenvolvida e que pudesse garantir para a família boas oportunidades. No entanto, em poucos anos as coisas começaram a mudar. 

A família veio do sul já com lote e materiais de construção comprados. Levantaram casa e a primeira loja de vestuário da rua. Na época, a irmã de Lúcia pagou R$ 3 mil num lote que hoje possui valor comercial acima de R$ 800 mil. 

Pouco tempo depois eles aproveitaram para comprar o terreno ao lado, desta vez por R$ 7 mil, onde hoje funciona o bar da família. Mas, apesar da supervalorização, a comerciante nem cogita intenção de deixar o imóvel.

Hoje a loja, que antes era apenas um puxadinho do bar, tem a sua própria estrutura toda equipada com vitrine, prateleiras do teto ao chão e provador. Com roupas para público adulto e infantil, tanto masculina quanto feminina, o estabelecimento é a prova de que empreender nos bairros pode ser uma grande oportunidade para quem não tem o mesmo pique do comércio central, mas deseja resultados tão bons quanto.

A avenida Lindalva Marques Ferreira se consolidou como um grande conglomerado comercial, desde o seu início na rua Orestes Pereira de Matos, até as alturas da rua Márcio Paiva. 

Lá a população encontra supermercado, restaurante, farmácia, sorveteria, lojas de roupas, conveniências, padarias, salões de beleza, barbearias, comércio de gás, loja de venda e assistência em eletrônicos, frutarias, comércio de materiais de construção, comércio especializado em venda de bicicletas, mecânicas de moto e carro, e até uma corretora de crédito. 

Felipe Faustino, 26, é correspondente bancário e há três anos decidiu empreender no mercado de empréstimo consignado. Ele relatou ao Dourados News que no início buscou um local mais centralizado, mas após analisar os custos desse tipo de instalação, percebeu que investir no bairro poderia ser bem mais vantajoso. 

“Quando nós decidimos montar o escritório, pensamos na região central, mas optamos por aqui, afinal as pessoas não moram no centro, elas moram nos bairros. E além de tudo, o centro tem várias dificuldades principalmente com a questão de estacionamento, burocracias, então procuramos um bairro com bom movimento em avenida e nos encontramos aqui”, disse. 

Felipe garante que em três anos o estilo comercial da via evoluiu bastante. Ele afirma que optar pelo empreendimento no bairro de fato foi uma escolha assertiva. 

“Nos adaptamos muito bem, começamos aqui com duas pessoas hoje estamos em seis e tudo o que a gente precisa é de uma oportunidade do cliente para mostrar nosso serviço. Se fosse para montar algo hoje eu não optaria pelo Centro de novo, eu tirei isso da minha cabeça. É um pouco de ilusão porque hoje o custo de um ambiente deste aqui é a metade do custo lá. O aluguel é o principal custo pra quem tá começando a empreender, então influencia bastante na estabilidade do comércio nos primeiros anos”, afirma.

E a escolha por investimento no bairro não é apenas para pequenos negócios, como muitos acreditam. Prova disso é o empreendimento feito pelo contador Raimundo Domício da Silva, que abandonou a sociedade em um escritório de contabilidade para ter um estabelecimento expressivo na região do Jardim Novo Horizonte. 

Ele é proprietário de uma empresa de materiais de construção, móveis e tintas, que hoje ocupa metade de uma das quadras da avenida Lindalva Marques. O início, há 9 anos, foi bem tímido, apenas uma ‘portinha’. Mas, nos bastidores do negócio o empresário já planejava e negociava a ampliação do comércio em um futuro breve.  

Hoje a firma, que recebeu há pouco tempo um investimento financeiro de R$ 500 mil para ampliação, atende a população daquela região de forma personalizada. Ele garante que o sucesso da empresa se dá ao planejamento de abertura e manutenção do negócio, principalmente na relação com o cliente. 

“Quando eu decidi empreender nesse ramo, que na época estava em alta, fui até a Prefeitura e perguntei qual região da cidade tinha o maior potencial de desenvolvimento previsto. Eles me indicaram o Jardim Novo Horizonte e quando vim pra cá sabia que realmente seria esse o meu lugar”. 

Ele conta que a metodologia de trabalho da empresa corresponde às necessidades dos profissionais de construção da região. “Eu atendo apenas essa parte da cidade, principalmente pela logística. Aqui nós temos uma frota de entrega e começamos bem cedo para levar o material até o canteiro quando o pedreiro chega. Esse atendimento personalizado, adaptado para o que o cliente precisa, é o que nos garantiu esse crescimento”, considera. 

Para o empresário, a população tem optado pelos bairros por conta dos custos de se comprar na principal área comercial da cidade. “Ir comprar no centro muitas vezes custa caro. O cara precisa pagar estacionamento, enfrentar um trânsito complicado, aí encontra preços elevado, muitas vezes um atendimento ruim e entrega ineficiente. Não tem jeito, a forma de consumo das pessoas muda e o cliente de bairro entendeu que comprando perto de casa ele não só investe na região onde mora como também evita essas fadigas”, afirmou. 

A empresa emprega hoje 13 funcionários, mais que o dobro de quando começou, com apenas quatro atendentes (ele, a esposa e duas cunhadas).  

Mas, e quem mora lá, realmente se sente beneficiado por esse desenvolvimento comercial? Segundo Sebastiana Correia Pereira da Silva, 69, sim. A paulista veio para Dourados em 2010 e fala para quem chega que ama a cidade e não pensa em mudar de jeito nenhum. 

Ela relembra as condições do bairro quando chegou há nove anos. “Não tinha asfalto aqui, as casas eram mais simples, tinha muitos terrenos vazios ainda”. 

A idosa relata que quando comprou o imóvel, distante uma quadra da avenida, pagou R$ 35 mil com um cômodo já construído. A família ainda precisou investir na ampliação e acabamento da casa, que hoje ela não faz nem questão de calcular um valor comercial para venda. 

Questionada sobre a frequência de consumo no comércio local, dona Sebastiana garante que só vai no Centro se ali mesmo não tem o que ela precisa. 

“A gente encontra de tudo aqui né. Tem mercado, salão, loja de roupa, restaurante, pizzaria, farmácia, tem tudo. Então pra ir no Centro é só mesmo se não achar o que precisa”, afirma.

O PRÓXIMO BAIRRO

A produção da série chega até a região da Vila Piratininga, área norte da cidade. Lá conhecemos a história de comerciantes que explicaram o por quê obtiveram sucesso em seus negócios fora do Centro. 

A matéria vai ao ar na próxima segunda-feira (9/9).

Comentários