saúde pública

Em CPI, filha diz que médico não continuou tratamento porque paciente já iria morrer

Oito familiares de pacientes que morreram esperando tratamento correto para o câncer depõem nesta quarta-feira (31) na CPI da Saúde de Campo Grande. Eles relatam descaso no atendimento e demora no tratamento que podem ter culminado na morte dos pacientes, como no caso do pai de Ivone Oliveira, de 45 anos.

José Marcolino, com 72 anos, iniciou o tratamento contra um câncer no peritôneo, tecido que reveste os órgãos internos como bexiga e pâncreas. O início do tratamento, na Santa Casa, foi feito com a associação de gencitabina e cisplatina e a filha relata que o pai apresentava melhoras.

O problema aconteceu quando o idoso precisou mudar de médico. “Na última consulta, com o médico Alicardo Figueira, ele resolveu mudar de remédio e questionei porque meu pai estava respondendo bem ao tratamento. Ele disse que, como representante legítimo do SUS, poderia trocar a medicação por uma mais barata, já que meu pai morreria mesmo”.

Sem acreditar no que o médico dizia, a filha ainda argumentou que compraria a medicação, se fosse o caso. “Ele disse que a gente tinha que fazer era juntar dinheiro para pagar um psicólogo para aceitar a morte do meu pai. Meu pai teve o direito ao tratamento negado por ele. Isso para mim foi eutanásia, os médicos estão decidindo quem vive e quem morre”, lamentou Ivone.

“Meu pai teve efeitos colaterais terríveis e começou a regredir. Ele era paciente do SUS. Nós vimos a dificuldade, descaso e falta de respeito muito grande que acontece com os internados. Tive que pedir ajuda para toda a família e interná-lo em um hospital particular por um mês para que eles tomasse morfina e não morresse com muita dor”.

Após a morte de José, em janeiro deste ano, o SUS enviou uma carta de avaliação do tratamento. No documento, consta que todo o tratamento do paciente foi feito com a primeira medicação. “Se não foi o meu pai que usou, que respondia bem ao tratamento, quem foi? Eu quero justiça”, pede Ivone.

Os escândalos revelados pela Operação Sangue Frio e denúncias que apareceram na mídia fizeram a filha procurar o Ministério Público Federal e a CPI para denunciar o caso do pai.

Esta foi a mesma motivação de Gabino Lino, de 59 anos, que perdeu o genro Rodrigo Santana, de 34 anos, no dia 10 de março, por consequências do câncer gástrico. O Hospital do Câncer constatou a doença e os médicos indicaram três sessões de quimioterapia.

“Ele foi na primeira, respondeu ao tratamento. Voltou para casa sem orientação médica e lá ficou por 25 dias até a segunda sessão. O corpo dele em casa, segunda sessão e corpo não reagiu bem, não respondeu e a outra teve que antecipar”.

O rapaz, segundo o sogro, estava acumulando muito líquido no corpo e foi internado no dia 5 de novembro de 2012. “Ele ficou igual um engessado de tão duro, inchado. E o médico o liberou mesmo assim”.

Rodrigo recebeu, ao invés de tratamento, uma carta com indicação para que procurasse o tratamento em São Paulo. Ele conseguiu vaga no Rio de Janeiro, onde oito litros de líquido acumulado foram retirados. “Como assim ele estava dentro de um hospital, com tudo isso de líquido, no maior sofrimento, e não fizeram nada?”, questiona.

do MidiaMax

A família denunciou ao Ministério Público Federal e uma perícia feita pela investigação revelou em resposta a família que a avaliação do paciente foi insuficiente. “Ou seja, foi comprovado mau atendimento. O que eu quero dessa CPI? Eu quero Justiça. Não estou contestando se ele morreria ou não. Estou contestando que se ele tivesse tido um tratamento adequado, sofreria menos”. Rodrigo foi casado por 15 anos, e deixou um filho de quatro anos.

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