SAÚDE

Mastologista alerta que 60% dos casos de câncer de mama têm diagnóstico tardio

Tumor mais comum entre as mulheres e também o 2º que mais mata, o câncer de mama tem em 60% dos casos um diagnóstico tardio, diminuindo as chances de cura. A afirmação é da mastologista e ginecologista Ana Teresa Gusmão De Lucia, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Mastologia. Segundo ela, o principal obstáculo é o acesso ao exame na rede pública e mesmo depois de realizá-lo, a mulher percorre uma verdadeira via crucis até conseguir a consulta com o mastologista e realizar a biópsia. Depois nova peregrinação para conseguir o tratamento.

Com taxa de 65,23 casos a cada 100 mil habitantes, o Estado de Mato Grosso do Sul é o segundo do Centro-Oeste em incidência de câncer de mama, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca-2016). No ranking nacional o Estado aparece em 6° com 820 novos casos previstos por ano. Em MS, somente no primeiro semestre de 2017, foram registrados 37 óbitos por câncer de mama. Durante todo o ano anterior (2016), 86 mulheres morreram.

Em Dourados, foram atendidos 241 casos de câncer de mama em 2015, sendo 53 novos. Os dados são de uma estatística feita pelo Hospital do Câncer de Dourados, com base nos atendimentos realizados entre pacientes que estão em tratamento. O número inclui 34 municípios da região.

No Brasil, o Inca estimou mais de 58 mil novos casos de câncer de mama por ano, segundo dados do Inca. Esse número equivale a 28% de todos os casos de câncer em mulheres estimados para este ano.

A mastologista Ana Teresa Gusmão De Lucia, alerta para a doença e afirma que o diagnóstico precoce é a linha determinante entre a maior ou menor chance de cura. Segundo ela, quando detectado no início pode chegar a 95%. Além disso, este diagnóstico em fase inicial permite cirurgias mais conservadoras e tratamentos menos agressivos.

O que causa o câncer de mama?

O câncer de mama é uma doença multifatorial, ou seja, vários fatores estão relacionados à sua gênese. Fatores externos (ambientais) e internos (perda da capacidade de se defender das agressões, por exemplo) interagem entre si, levando a alterações nas células que vão culminar com o crescimento desordenado das mesmas e formação do tumor, com capacidade para invadir tecidos e órgãos. No entanto, alguns fatores estão relacionados a um maior risco de desenvolver a doença.

Quais são esses fatores de risco?

Os principais fatores de risco são: idade (maior de 50 anos), história pessoal e familiar de câncer de mama, menarca precoce (antes dos 12 anos), menopausa tardia ( após os 55 anos ), não ter filhos ou primeiro filho após os 30 anos, terapia de reposição hormonal no climatério, biópsia previa com hiperplasia atípica ,obesidade , dieta rica em gorduras, ingestão de álcool, entre outros.

O que são nódulos e qual a sua incidência no Câncer de mama?

Chamamos de nódulos as massas ou tumores sólidos, de diferentes tamanhos, podendo ser palpáveis ou às vezes muitos pequenos e só visualizados nos exames de imagem . O câncer de mama geralmente se manifesta como um nódulo palpável, ou seja, a paciente é que percebe, indolor, endurecido e que vem aumentando de tamanho. Pode estar associado ao abaulamento ou retração da pele, saída de secreção pelo mamilo e aparecimento de gânglios aumentados na região axilar. O nódulo também pode ser não palpável, muito pequeno e visto só na mamografia ou ultrassom. Podem ser benignos e malignos e somente a biópsia determinará a natureza exata da lesão.

Qual a diferença entre nódulos e cistos? E qual deles está mais relacionado ao câncer de mama

Quando falamos em nódulos geralmente são sólidos, já os cistos tem componente líquido. Os cistos são benignos, fazendo parte de um conjunto de alterações funcionais benignas da mama, antigamente denominada de alteração fibrocística ou displasia mamária. Os cistos não tem relação com o câncer de mama. Já os nódulos sólidos podem ser benignos ou malignos e a característica nos exames de imagem é que vai determinar a necessidade de biópsia .

É verdade que o câncer tem atingido cada vez mais mulheres com menos de 40 anos?

A incidência do câncer de mama aumenta com a idade, portanto o diagnóstico antes dos 35-40 anos é pouco freqüente. Porém nos últimos anos temos observado um aumento crescente da doença em mulheres jovens abaixo dos 40 anos, sendo que nesse grupo o câncer costuma ser mais agressivo e com taxas de recidiva maior.

Quando e com qual freqüência a mulher deve fazer o auto-exame ?

A orientação atual é que a mulher faça a observação e a auto-palpação das mamas em qualquer dia do mês, quando se sentir confortável, no banho ou ao trocar de roupa, e não mais em uma data específica . É importante que ela conheça bem sua mama e esteja atenta a qualquer mudança, para que possa procurar assistência médica frente a anormalidades a fim de obter um diagnóstico precoce.

Quando se deve fazer o exame de mamografia?

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda a realização de mamografia a partir dos 40 anos de idade, anualmente. Este método consegue detectar o tumor numa fase pré-clinica, ou seja, quando ainda não é palpável, aumentando assim as chances de cura. Os estudos demonstram que a realização do rastreamento mamográfico conseguiu reduzir a mortalidade do câncer de mama nos últimos anos e, em nosso país. A lei federal 44669 garante o direito de toda mulher fazer sua mamografia após os 40 anos.

Como é o tratamento do câncer de mama?

O câncer de mama pode ser tratado com cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia, de acordo com as características do tumor, estadiamento, idade da paciente, entre outros, que o tratamento é escolhido, em uma associação dessas modalidades terapêuticas.

O que determina se a mama precisa ser retirada?

Geralmente o que determina se a cirurgia vai ser conservadora (quadrantectomia) ou mastectomia é o tamanho do tumor e a multifocalidade. Quando há a necessidade de mastectomia, a reconstrução da mama é realizada e, na maioria das vezes, no mesmo tempo cirúrgico .

Quais são as chances de cura do câncer de mama ?

Sem dúvida, o diagnóstico precoce é a linha determinante entre a maior ou menor chance de cura . Quando detectado no início pode chegar a 95 %. Além disso este diagnóstico em fase inicial permite cirurgias mais conservadoras e tratamentos menos agressivos .

Quais mudanças de hábito podem reduzir a chance de desenvolver câncer de mama?

Ter uma alimentação saudável, com pouca ingestão de gordura e álcool, manter o peso adequado e praticar exercícios físicos regulares podem ajudar a diminuir o risco de desenvolver a doença. A amamentação também é considerada um fator protetor.

Pílula anticoncepcional aumenta o risco de câncer de mama?

Os estudos apresentam resultados controversos e geralmente associados ao tempo de uso. Em geral não é considerado fator com forte associação.

Qual a maior dúvida que a senhora ouve no consultório?

Talvez não seja uma dúvida, mas o mais freqüente é a paciente querer saber se tem ou se vai ter câncer de mama. Essa doença realmente está cercada por muito medo e por muitas informações equivocadas. A maioria encara o câncer como uma sentença de morte. O esclarecimento sobre a doença e as formas de tratamento ajuda a paciente a enfrentar e vencer essa etapa.

Qual a importância de movimentos mundiais como o Outubro Rosa?

Esses movimentos de conscientização são muito importantes porque o câncer de mama realmente é um grave problema de saúde pública, por ser o câncer mais incidente na mulher e também devido sua alta mortalidade. Então, falar claramente sobre o assunto e a sua importância, trazendo informações corretas e lembrando a mulher sobre os meios de prevenção, pode trazer bons resultados.

No ano passado virilizou na internet a informação de que a mamografia causava riscos de câncer de tireóide e que as pacientes deveriam utilizar protetores. Isso é verdade?

Não existem dados consistentes que demonstrem que uma mulher submetida a mamografia tenha aumentado risco de câncer de tireóide . O risco de indução deste tumor após uma mamografia é insignificante (menos de um caso a cada 17 milhões de mulheres que realizarem mamografia anual entre 40 e 80 anos). Baseado nestes dados, o Colégio Brasileiro de Radiologia não recomenda o uso de protetor de tireóide em exames de mamografia. Mas se a paciente solicitar a clínica disponibiliza esses protetores para uso.

Como a senhora avalia o atendimento na rede pública? Diagnóstico e assistência precária dificultam o diagnóstico precoce?

O cenário do câncer de mama no Brasil continua crítico. Cerca de 60% dos casos são diagnosticados em fase adiantada da doença, o que diminui as chances de cura. O principal obstáculo é o acesso ao exame. E depois de um exame clínico ou mamografia alterada, a mulher percorre uma verdadeira via crucis até conseguir a consulta com o mastologista e realizar a biópsia. Depois nova peregrinação para conseguir o tratamento. Tudo é muito demorado. E o câncer tem pressa. O tumor pode demorar 7 anos para atingir um centímetro , mas a partir daí, dobra de tamanho a cada 6 meses. Esta demora no diagnóstico e tratamento precoce sem dúvida tem tirado a vida de muitas mulheres.

O exame utilizado pela atriz Angelina Jolie para rastreamento de câncer hereditário foi incluído na cobertura de planos de saúde brasileiros em 2013. Ele está de fato acessível?

O seqüenciamento genético para pesquisa de câncer hereditário ( mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 ) , só está indicado em mulheres com histórico familiar de múltiplos casos de câncer de mama e ovário na família , freqüentemente diagnosticados em idade jovem( < 40 anos ), e/ou bilaterais . Há necessidade de avaliação de um geneticista, que analisa a real indicação do exame. Portanto é um exame com indicação restrita, não recomendado para a população feminina em geral. Importante lembrar que apenas 10% dos tumores são considerados hereditários.

A mastectomia é a única alternativa para prevenção da doença nos casos de mutações nos genes BRCA 1 e 2 ?

Não. Essas mulheres que apresentam a mutação têm um risco muito aumentado de desenvolver câncer de mama ao longo da vida. Após a estimativa desse risco, é oferecida tanto a alternativa medicamentosa com o uso de tamoxifeno quanto à cirúrgica, com a realização de uma mastectomia redutora de risco. A paciente é que toma a decisão.

O que há de novo no tratamento do câncer de mama?

O esvaziamento axilar sistemático foi substituído pela biópsia do linfonodo em sentinela. Esse é avaliado durante a cirurgia e se estiver negativo , não há necessidade de retirar outros linfonodos. Com isso há menos seqüelas, como o edema e limitação da movimentação do braço. Também há técnicas de cirurgia oncoplástica, que têm sido usadas para reconstrução das mamas após cirurgias conservadoras e radicais. Este remodelamento da mama é oferecido no mesmo ato operatório, com excelente resultado estético. Além disso, medicamentos quimioterápicos tumor específico têm sido utilizados com melhora da sobrevida e menos efeitos colaterais.

Considerações finais

A incidência do câncer de mama aumenta a cada ano, com 58 mil casos esperados para 2017, com 14 mil mortes, segundo dados do Inca. O diagnóstico precoce é o principal meio para atingir índices de cura próximo de 95%. Portanto, temos que buscar sistematicamente esse diagnóstico e tratamento precoce, oferecendo informação e acesso universal aos serviços de saúde para todas as mulheres.

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