O Ministério Público Estadual está investigando a falta de merenda em escolas estaduais de Dourados, que estão tendo que improvisar para dar o mínimo à crianças. De acordo com a promotora da Infância e Juventude, Fabrícia Barbosa de Lima, o problema atinge todos os municípios do Estado. Em Dourados a informação apurada pela promotoria é a de que nem todas as escolas conseguiram estocar alimentos no final do ano.
"As unidades recebem recursos para a compra de merenda que vem do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e do Governo do Estado. Como esses investimentos são repassados apenas em março, as escolas recebem cerca de 40 dias a mais para garantir a merenda nos primeiros dias de ano letivo seguinte. Algumas escolas conseguem fazer a prática do estoque no fim do ano, mas a grande maioria não, principalmente aquelas que estão localizadas em bairros mais carentes da cidade, onde a situação de vulnerabilidade social é maior e a refeição da escola é muitas vezes a única do dia para muitos alunos", destaca a promotora.
Visando sanar o problema para unidades que estavam sem a merenda a promotoria entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado, que informou que nestes casos, iria garantir o abastecimento por meio da compra de alimentos com recursos próprios para atendimento de 40 dias letivos, ou seja, até que as escolas tenham condições de finalizar o processo de recebimento dos recursos federais, compra e pagamento dos fornecedores neste mês de março. "O Estado nos afirmou que a próxima entrega ocorreria na quinta-feira (02) e hoje (03) em Dourados. Estamos acompanhando", explica.
Ontem O PROGRESSO esteve em escolas estaduais. Algumas receberam o alimento, enquanto outras não. Na Escola José Pereira Lins, localizada no bairro Jóquei Clube, os alunos estavam recebendo 3 bolachas e meio copo de iogurte como refeição. A situação é preocupante porque sem estoque, a escola vem "improvisando" a refeição e pode até ser obrigada a suspender o serviço já na próxima semana se não receber a ajuda do Estado. No início do ano a unidade recebeu alguns alimentos como feijão, farinha e charque, que já acabaram. A escola também enfrenta grave problema de falta de professores e os alunos estariam sendo dispensados por conta disso.
Na Escola Floriana Lopes, no bairro Izidro Pedroso, em que a direção chegou a pedir para que os pais providenciassem alimentos, a merenda chegou no último sábado, segundo a direção. A Escola Castro Alves, da área central de Dourados, foi uma daquelas que no final do ano conseguiu estocar alimentos e portanto não teve problema de desabastecimento, mas está atuando no limite da reserva.
Estado
O Governo do Estado esclareceu que o recurso financeiro destinado a cada escola é calculado conforme o censo escolar do ano anterior ao atendimento, disponibilizado oficialmente no final do mês de janeiro de cada ano, momento em que as escolas passam a conhecer o valor anual que terão para a aquisição de alimentos, no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e, iniciam o processo de compras através de chamada pública para a agricultura familiar e licitação. Todo esse processo demanda em média de 30 a 40 dias. Por causa disso, segundo o Estado, as escolas cientes do período demorado de aquisição fazem seus estoques planejando os 40 primeiros dias do ano letivo do ano seguinte.
"Como de praxe ao final de cada ano, a Secretaria de Educação realizou levantamento junto às escolas para saber a situação de seus estoques, se estes seriam suficientes para atender a alimentação escolar durante o período inicial do ano letivo e constatou que a maioria das escolas mão conseguiu estocar os alimentos. Por conta disso, eles compraram alimentos estão distribuindo nas escolas".
Nutrição
Procurada pelo O PROGRESSO para falar sobre os impactos da má alimentação para alunos na infância e adolescência, a nutricionista Bruna Menegassi disse que o desequilíbrio alimentar pode acarretar problemas de déficit de aprendizado e crescimento. Problema como a obesidade também é um risco grande.
"Levando em consideração a informação de que os alunos se alimentam com bolachas e meio copo de iogurte, o que podemos alertar é que se essa alimentação, que muitas vezes pode ser a única do dia para alguns alunos, pode trazer sérios riscos se mantida por muito tempo. Trata-se de alimento ultraprocessado, geralmente com grande quantidade de açúcar, corantes entre outros elementos químicos, que a longo prazo podem desencadear sobrepeso", explica observando que muitas vezes sobra carboidratos e falta fibras, vitaminas, nutrientes essenciais para o bom aprendizado.
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