A crise financeira estabelecida há pelo menos dois anos vem fazendo com que a usina São Fernando, em Dourados, começasse a vender parte dos maquinários de seu parque industrial. O motivo, seria as dificuldades em não conseguir manter a manutenção dos mesmos e para poder pagar salários de funcionários da empresa. As informações foram apuradas pelo Dourados News junto a pessoas que trabalham no local.
Lotes com vários veículos e equipamentos deixaram o local na quarta e na quinta-feira e a expectativa, segundo o grupo, é que o mesmo aconteça nesta sexta. “Foram seis tratores e três colhedeiras de cana que acompanhei que foram embarcados e levados. A informação repassada é que seria para quitar compromissos com os trabalhadores”, disse uma das pessoas após conversar com superiores.
Ainda conforme apurado pelo Dourados News, os vencimentos dos trabalhadores contratados pela São Fernando estariam em dia, porém, a usina estaria atrasando pagamento a prestadores de serviços. “Há reclamações desses funcionários de que ficam até dois, três meses sem receber”, disse outro trabalhador.
A situação gera clima de incerteza entre os funcionários que estariam insatisfeitos com alguns benefícios que foram ‘cortados’ ou estariam irregulares.
“Tiraram nosso direito de alimentação no local e nos cederam um cartão – vale alimentação. Só que o fato é que o cartão só funcionou nos primeiros seis meses e depois não depositaram mais nada. Outra coisa é o plano de saúde que é descontado no total no nosso salário e só funciona bem na primeira semana no mês. Tem tudo isso e agora vemos essas vendas, será que dessa vez vão fechar as portas?”, questiona.
Diante da situação, o Dourados News entrou em contato com o MPT (Ministério Público do Trabalho) para buscar informações sobre ações por parte dos trabalhadores do local, já que recentemente um grupo de pessoas demitidas acionaram o órgão pela dificuldade em receber os direitos trabalhistas para saber sobre o caso, porém, os servidores alegaram não poder fornecer detalhes sobre fatos ligados a usina.
Foi tentado também o contato com a usina São Fernando durante toda a tarde de quinta-feira na tentativa de esclarecimentos dos fatos, porém, sem sucesso.
Crise
Neste ano algumas situações foram retratadas pelo Dourados News e mostram a problemática de crise por qual passa a Usina São Fernando.
Em fevereiro, oficiais de Justiça cumpriram mandados expedidos pela Justiça por conta das dívidas existentes na empresa. Na ação foram levados veículos leves, motocicletas e caminhões.
Já em julho, funcionários da usina que estavam sem receber rescisões contratuais após serem demitidos ou se desligarem realizaram protesto para receber o direito.
O grupo chegou a protocolar um documento junto ao MPT (Ministério Público do Trabalho) no qual relatavam a situação do atraso das rescisões e ainda outras questões que abrangiam não pagamento de contribuições fundiárias, tickets de alimentação e do plano de saúde.
Situações de problemas financeiros são evidenciadas na empresa desde 2014 quando 49% da empresa foi comprada por um grupo de investidores dos Emirados Árabes Unidos e mesmo assim as dificuldades em se liquidar as dívidas continuaram.
Lava Jato e CPI do BNDES
Um dos maiores controladores da usina, o pecuarista e empresário sul-mato-grossense José Carlos Bumlai, foi preso pela Polícia Federal em Brasília na terça-feira (24) e encaminhado para a Superintendência do órgão por suposto envolvimento na Operação Lava Jato. No mesmo dia Bumlai deporia na CPI do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), por conta de empréstimos suspeitos em favor da usina.
Após o ocorrido, a Polícia Federal “vasculhou” a empresa de Bumlai a procura de documentos que pudessem ligar o pecuarista e outros sócios a contratos irregulares.
A ação esteve no âmbito da Operação Passe Livre que ocorre dentro da Lava Jato. Depois de quase doze horas no local, a PF apreendeu vários arquivos que foram encaminhados para Curitiba para dar andamento as investigações.
Comentários