Com valorização acumulada de 45% no ano, o mercado financeiro já não se pergunta “se” o dólar vai superar os 6 reais, mas apenas “quando”.
No pregão de quinta-feira, 14, a moeda chegou a ser negociada por 5,9725 reais e o movimento de alta só resfriou quando o Banco Central anunciou que iria fazer um leilão de cerca de 1 bilhão de dólares em contratos de swap. Já próximo do encerramento do pregão, a autarquia voltou a atuar no câmbio à vista.
“Se não fosse pela ajuda do BC, o dólar teria batido 6 reais”, afirmou Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset. Para Spyer, o dólar está em iminência de chegar ao patamar de 6 reais. “O real é a moeda com a maior volatilidade implícita do mundo. Aqui o dólar pode oscilar 30 centavos com facilidade e chegar aos 6,30 reais”, afirmou.
Um dos motivos para a alta do dólar é a queda da taxa básica de juros, que sofreu três cortes em quatro meses e está em sua mínima histórica, de 3% ao ano. A redução dos juros tende a enfraquecer a moeda, já que títulos públicos ficam menos atrativos para investidores estrangeiros.
O próprio enfraquecimento da moeda, segundo Spyer, pode desestimular a entrada de dólares no país. “O pessoal [que investiu no Brasil] perdeu dinheiro em dólar. Com a desvalorização do real, não tem como pegar de volta os dólares que eles tinham. Para deixar dinheiro no Brasil, o juro tem que ser alto”, disse.
“Tenho certeza que um dia – pode ser hoje ou daqui duas semanas – o dólar vai bater 6 reais”, afirmou Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti. Segundo ele, a situação fiscal e política, agravada pela crise do coronavírus, têm contribuído para que o real se desvalorize ainda mais.
A opinião de que o dólar deve passar dos 6 reais no curto prazo também é compartilhada por bancos estrangeiros, como é o caso do Credit Suisse, que acredita que o dólar possa chegar a 6,20 reais. Segundo a instituição, a atuação “de forma geral muito limitadas” do BC, ruídos políticos e o número de casos de covid-19 no Brasil podem elevar o patamar da moeda.
Entre as principais preocupações políticas do mercado está o vídeo da reunião ministerial em que, segundo o ex-ministro Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro teria revelado a intenção de trocar a superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro por questões pessoais.
Na terça-feira,12, quando o site O Antagonista revelou que o conteúdo da gravação mostrava Bolsonaro associando a troca de comando da PF do Rio à necessidade de salvar sua família, o dólar bateu recorde no Brasil, a 5,866 reais, que foi superado no dia seguinte ao fechar a 5,901 reais.
Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegaríamos aos 5 reais se fosse feita “muita besteira”. Quando disse a frase, em cinco de março, o dólar nunca havia ultrapassado os 4,70 reais, o Brasil só tinha 8 casos de coronavírus confirmados e Moro e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta estavam no governo.
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