Comércio

Em mais um ano de pandemia, comércio foi resiliente e aprendeu com restrições

Comércio de portas fechadas durante pandemia em 2021. (Foto: Henrique Kawaminami) Comércio de portas fechadas durante pandemia em 2021. (Foto: Henrique Kawaminami)

Economia

Entre altos e baixos, o setor manteve a cabeça erguida e a esperança de dias melhores

Fevereiro de 2021, época de Carnaval. No lugar das ruas preenchidas com a risada e a alegria dos campo-grandenses, a Capital fechava suas portas para frear o avanço do contágio do coronavírus. O toque de recolher das 22h às 5h e o decreto que restringia as atividades do comércio eram os primeiros indícios do que o ano reservava para o setor.

Passados cerca de 11 meses desde àquele período, o presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Adelaido Vila, tem boas expectivas para o varejo no ano de 2022, que será também um ano eleitoral. “Enquanto houver esse distanciamento absurdo entre poder público e classe produtiva, tudo fica mais difícil”.

Em fevereiro de 2021, ainda não havia previsão de retorno seguro para as atividades consideradas não essenciais pelo Prosseguir (Programa de Saúde e Segurança da Economia). Mas o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Juliano Wertheimer, comemorava os primeiros avanços nas negociações com o governo do Estado e a prefeitura de Campo Grande para a flexibilização do toque de recolher.

Em março de 2020, a saúde pública entrou em colapso, com 116 pessoas infectadas pela covid aguardando por leito de UTI na Capital. Diante do cenário caótico, a prefeitura de Campo Grande decidiu antecipar 5 feriados e fechar a cidade por 9 dias. O decreto publicado dia 24 de março determinava que o comercio deveria fechar suas portas, e apenas as atividades listadas como essenciais poderiam funcionar. No período, ao Campo Grande News, o governador do Estado, Reinaldo Azambuja (PSDB), disse estar "assustado" com o crescimento da doença em Mato Grosso do Sul.

Com apenas 36 serviços essenciais listados, o comércio teria que fechar de 22 de março a 4 de abril. Wertheimer, em negociação com a prefeitura de Campo Grande e o governo do Estado, conseguiu com que fosse liberado o funcionamento dos restaurantes da Capital dentro do sistema de drive-thru e "pegue e leve" (take away).

Já em abril, as expectativas estavam depositadas no feriado de Dias das Mães, no mês seguinte. Em reunião extraordinária, realizada dia 29, pelo comitê do Prosseguir, a organização resolveu atender ao pedido dos comerciantes e alterar o toque de recolher para o dia das mães na Capital. A nova medida valeria de 5 a 9 de maio. O pedido foi feito pelo prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), pelos representantes da Abrasel e das associações dos comerciantes.

No fim do primeiro semestre do ano, quando o setor achava que ia se reerguer, a Capital teve que fechar de novo. Pegos de surpresa às vésperas do Dia dos Namorados, uma das datas mais lucrativas do ano, os comerciantes tiveram suas expectativas frustradas pelo decreto publicado dia 10 de junho, que classificava a Capital na bandeira cinza do Prosseguir, a pior classificação de contágio do coronavírus.

Longe de ser um lockdown, o decreto contava com 51 atividades essenciais liberadas, incluindo igrejas e academias, com toque de recolher das 20h até 5h. O governo do Estado também tornou as medidas do Prosseguir obrigatórias, deixando de ser "recomendação". O município que não quisesse seguir o Prosseguir, teria que apresentar "justificativas técnicas".

A pedido do prefeito de Campo Grande e da Assomassul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul), o governo do Estado estabeleceu um prazo de 48h para as cidades adotarem as novas regras para frear o avanço da covid-19. O novo decreto passaria a valer a partir do dia 13 de julho, após o Dia dos Namorados.

Logo após ser decretada as novas restrições da bandeira cinza, a prefeitura de Campo Grande publicou outro decreto reclassificando a Capital na bandeira vermelha do Prosseguir, derrubando determinação anterior, emitida pelo governo do Estado. Entidades representantes dos comerciários, bares e restaurantes comemoraram o novo decreto de flexibilização das atividades.

Com a nova classificação, o comércio poderia voltar a funcionar, desde que seguindo as medidas de biossegurança. Em recado para o governo, Marquinhos afirmou que não tomava "nenhuma decisão sem responsabilidade" e que "nenhum campo-grandense ia morrer longe de um leito de UTI".

Entre altos e baixos - O primeiro sinal de esperança para a volta definitiva do comércio foi em 26 de julho, quando o pedido da ACICG (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e da Abrasel, pela flexibilização do toque de recolher, foi atendido pela prefeitura de Campo Grande. "Não é questão de voltar atrás, não é questão de recuar, é questão de ser humilde suficiente. Equilibrar economia com pandemia, atendendo aos apelos que recebo”, justificou o prefeito Marquinhos Trad.

Para 2022, o maior desafio vai ser levar os aprendizados de 2021 para frente e entender a necessidade de uma maior organização e representatividade do setor. "Nós fomos injustiçados e abandonados", diz Vila, que mesmo vivendo de perto a crise, acredita na recuperação do setor. "O varejista é resiliente e tem grande capacidade de se reinventar e se reerguer".

Apesar dos desafios que virão pela frente, Juliano Wertheimer tem boas expectativas para o próximo ano e acredita que o setor terá um crescimento muito forte em 2022. "Historicamente, todos os períodos de recessão, pandemia ou grandes crises são seguidos de um comportamento social ávido por consumo, ávido por experiência, ávido por viver o que não se viveu no período de restrição, com a sensação de recuperar o tempo perdido", finaliza.

Comentários