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Um serial killer que deixa flores no local do crime e coloca espinhos nos olhos de suas vítimas. Todos os corpos são encontrados assim, com os mesmos requintes de crueldade. Pelo “modus operandi”, o assassino ficou conhecido, pela mídia, como “O Florista”. Assustador, não? Felizmente, é só um filme, de suspense, premiado internacionalmente, mas rodado aqui, em Campo Grande.
A produção, que se destaca pela qualidade, recebeu, no dia 30 de novembro, o título de melhor curta-metragem no Fest Cine Vídeo América do Sul, evento promovido pela ACV/MS (Associação e Cinema e Vídeo de Mato Grosso do Sul).
O mundo, segundo o Florista, interpretado pelo ator Filipi Silveira, campo-grandense radicado em São Paulo, “é como um jardim que possui belas flores e pragas que precisam ser eliminadas”, diz parte da sinopse.
O clima é carregado, “pesado” e, por isso, prende a atenção do telespectador, que fica na ânsia de um acontecimento inesperado. A trilha sonora, aliada às imagens “fechadas”, escuras e misteriosas, que escondem o assassino, personagem principal, se encarrega de deixar os nervos de qualquer um à flor da pele. Logo no início, a narração de uma notícia, em off, num telejornal, deixa tudo ainda mais sombrio.
“Uma vítima de homicídio foi encontrada esta manhã, desta vez, no bairro Cidade Jardim. O corpo foi encontrado com os mesmos traços de outras duas vítimas. Ao que tudo indica, trata-se mesmo de um caso de serial killer. Devido ao fato de flores terem sido encontradas junto aos corpos e espinhos de plantas colocados nos olhos das vítimas, alguns já o chamam de “O florista”. O que mais espanta é que, segundo alguns especialistas, este psicopata encara as vítimas como parte de seu arranjo de flores”, diz a apresentadora de voz compassada.
No meio da trama uma tentativa de homicídio acontece. A sequência de acontecimentos faz com que o filme sustente a temática violenta, amedrontadora. Para o ator que, na produção, acumula as funções de produtor, diretor e roteirista, “O Florista” “é uma dança que leva o público para vários caminhos recheados de metáforas, mensagens subliminares e discussão”.
Suspense poético - A figura do serial killer não é por acaso. Filipi sempre teve uma “queda” por personagens do mundo marginal. “Apesar do tema eu procurei o máximo não ser gratuito, porque o signo, a ideia incomoda muito mais. Em nenhum momento passo a linha, porque senão vira trash. Queria fazer um suspense poético e de bom gosto”, ressaltou.
A estória, afirmou, sempre esteve dentro dele, mas a concepção surgiu por acaso, durante uma visita a Campo Grande. “Todo final de ano eu passo aqui com a minha família e, de repente, surgiu a ideia de experimentar, fazer um curta aqui, nem que fosse para colocar na internet. Acabei conhecendo a produtora Rose Borges, que me apresentou um leque de profissionais. Então, em um dia, em escrevi o roteiro”, contou, ao comentar que “flertou” com várias referências, como o suspense, terror e até anime.
Como tudo pensado, na ponta da caneta, era hora de por a mão na massa. O primeiro ato foi gravado no quarto de um primo, contou Filipi. Uma passarela gramada, que dá acesso à Via Parque, “bonita de dia, mas medonha à noite”, tornou-se cenário. A Floricultura Rosalândia, na Avenida Mato Grosso, foi outra locação. Em três meses, o trabalho, que começou em março do ano passado, estava pronto, graças à equipe que incluiu profissionais de São Paulo.
“Queria fazer um filme bonito de ver, filmado em Campo Grande, mas com uma história que comunicasse para o mundo inteiro”, acrescentou. A pretensão, pelo visto, foi alcançada.
O curta virou sucesso. Já foi exibido e premiado em alguns festivais, como o de Cannes, um dos mais prestigiados do mundo. Também já passou pela Austrália, como o Brazil Film Festival, Cine Riba (Cinema Itinerante do Rio de Janeiro), Fantaspoa (Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre), entre outros. Foi indicado, pelo Conselho da Academia de Cinema do Brasil, ao primeiro turno do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, o “Oscar Nacional”.
Em Campo Grande, a obra só chegou este ano. O atraso foi proposital, mas a justificativa é bem embasada: “Sempre disse que não gostaria de fazer uma exibição só do curta. Pode ser o melhor curta do mundo, mas sair de casa para assistir só 15 ou 20 minutos é muito pouco para se ter uma imersão cinematográfica. [...] Quando soube que iria te rum festival aqui, resolvi esperar até que ele fosse ocorrer para fazer uma apresentação aonde acho que tem que ser: no cinema”.
A experiência rendeu, no final das contas, elogios, aplausos, prêmios e uma bela experiência, diz o ator. Não é fácil fazer cinema. “Esse curta serviu para eu aprender, também, como se cuida de um filme. Fazer é difícil, mas exibir é bem pior”.
Falando em exibição, vale ressaltar, para quem não assistiu, que “O Florista” pode ser reapresentando em Campo Grande, mas ainda não há nada definido. “Vou reunir com a equipe de produtores, Rose Borges e Roberto Leite, e pensar talvez em uma nova, porque tem muita gente que ainda não viu e quer ver”, adiantou.
Perfil – Natural de Campo Grande, Filipi Silveira tem 30 anos e é bacharel em direito, mas não atua na área. Na graduação, chegou a estagiar no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) e em um escritório de advocacia, mas não se identificou com a profissão.
Formado, percebeu que o “mundo jurídico” não era sua praia. Mudou-se para São Paulo, onde estudou e profissionalizou-se na arte da interpretação. Como ator, coleciona, em seu currículo, passagens pelo Centro de Formação do Ator Globe-SP, Escola de Atores Wolf Maya e Studio Fátima Toledo. O ator mora em na Capital Paulista há 6 anos.
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