Adilson Durante Filho, conselheiro do Santos, fez uma série de declarações racistas num áudio que começou a circular nesta quinta-feira em grupos de whatsapp de torcedores do clube. O próprio Durante Filho reconheceu a autoria da gravação, "de alguns anos atrás". Dirigindo-se a um interlocutor não identificado, ele diz:
– Sempre que tiver um pardo, o pardo o que que é, não é aquele negão, também não é o branquinho. É o moreninho, da cor dele. Desses caras, tem que desconfiar de todos. Todos que tu conhecer. Essa cor é uma mistura de uma raça que não tem caráter. É verdade, isso é estudo. Todo pardo, todo mulato, tu tem que tomar cuidado. Não mulato tipo o Pedro, o Pedro é tipo índio, tipo chileno, essas porras. Estou dizendo mulato brasileiro, entendeu, dos pardos brasileiros. São todos mau caráter. Não tem um que não seja.
Diante da repercussão do caso, o Santos publicou em seu site uma nota oficial para "reafirmar absoluto repúdio a qualquer forma de discriminação e racismo". Adilson Durante Filho também divulgou uma nota, na qual atribui as ofensas racistas a "um momento infelicidade", pede "desculpas a todos que se sentiram ofendidos" e afirma sentir "mais profundo arrependimento".
Adilson Durante Filho, que também é secretário-adjunto de Turismo de Santos, pediu licença sem remuneração de seu cargo na prefeitura. Em nota, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, manifestou "repúdio a qualquer manifestação que defenda ou propague preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade" e informou que Durante Filho está suspenso de suas atividades enquanto durar a licença.
As íntegras das três notas estão ao fim deste texto.
A torcida do Santos reagiu imediatamente nas redes sociais, por meio das hashtags #SantosAntiRacista e #ExpulsaORacista.
O Código de Conduta e Ética do Santos diz logo em seu artigo 3 que é dever dos conselheiros (e de todos a quem o documento se dirige) "respeitar e promover a diversidade e combater todas as formas de preconceito e discriminação em consequência de raça, cor de pele, nacionalidade, posição social, idade, religião, sexo, estética pessoal, convicção política, orientação sexual, condição física, mental ou psíquica, estado civil ou qualquer outro fator de diferenciação individual".
O estatuto do Santos prevê penas de advertência verbal, censura escrita, suspensão e até eliminação do quadro associativo para quem violar as regras do clube.
Para que Durante Filho seja expulso, como quer parte da torcida, é preciso que uma denúncia seja subscrita por, no mínimo, 20 membros do Conselho Deliberativo, do qual ele próprio faz parte.
– O clube já emitiu a nota oficial sobre o assunto. Quanto às consequências no Conselho Deliberativo, a mesa aguardará futuras manifestações dos conselheiros, que analisará de acordo com o Estatuto e Regimento Interno do Santos FC – disse Marcelo Teixeira, presidente do Conselho Deliberativo do Santos, ao GloboEsporte.com.
Nota publicada por Adilson Durante Filho
Com relação a um antigo áudio de alguns anos atrás que circula nas mídias sociais, de minha autoria, gostaria de expor que, em um momento de infelicidade e levado pela emoção, em decorrência de um fato que muito me abalou, acabei me expressando de forma absolutamente diversa das minhas crenças e modo de agir. Jamais tive a intenção de atingir quem quer que seja, até porque assim me manifestei em um pequeno grupo de supostos amigos de WhatsApp. Consigno que não tenho qualquer preconceito em razão de cor, raça ou credo, pois minha criação não me permitiria ser diferente. Peço, humildemente, desculpas a todos que se sentiram ofendidos, e expresso, por meio deste comunicado, meu mais profundo arrependimento quanto às palavras genericamente proferidas
Nota oficial do Santos:
O Santos Futebol Clube tem em sua trajetória a marca de ter sido, nos anos 60, um dos símbolos mais fortes, a nível mundial, do combate ao racismo, ainda engatinhando naquela época, mas que se fortalecia. O time mágico de Pelé, Pepe, Coutinho, Zito e tantos outros gênios do futebol espalhou aquela maravilhosa imagem de brancos e negros se abraçando para comemorar gols que encantavam o mundo. Até hoje mantemos acesa essa tradição. Assim, é muito triste que tantas décadas depois tenhamos de vir a público reafirmar nosso absoluto repúdio a qualquer forma de discriminação e racismo.
Temos orgulho da nossa história construída em 107 anos de existência por ídolos negros, pardos, brancos e seres humanos de todas as etnias. Brasileiros, somos produto da miscigenação. Santistas, vamos continuar lutando pela paz do nosso branco e pela nobreza do nosso preto, cores eternamente entrelaçadas em nossa história.
Nota do prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa
Como prefeito, afrodescendente, cidadão, filho de ex-engraxate de sapato de origem humilde, manifesto, com veemência, repúdio a qualquer manifestação que defenda ou propague preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, independentemente dos meios, circunstâncias ou período de tempo que ocorra. Sempre será e deve ser absolutamente condenada.
O funcionário da prefeitura envolvido no lamentável caso que se tornou público, sr. Adilson Durante Filho, reconheceu o grave erro, pediu desculpas, se retratou publicamente e está ciente da sua responsabilidade e das possíveis consequências desse ato cometido na esfera de sua vida privada. Ele pediu licença não remunerada de suas funções para que possa prestar os esclarecimentos devidos decorrentes da sua manifestação.
A situação administrativa do funcionário está suspensa, com prejuízo dos vencimentos, e permanecerá assim durante todo o período de seu afastamento.
Comentários