Foram 90 minutos em Itaquera que resumiram toda uma temporada. A maior goleada da história do clássico entre Corinthians e São Paulo mostra que surpreendente, mesmo, é o time do Morumbi ainda brigar por uma vaga no G-4 a duas rodadas do fim do Brasileiro – tem 56 pontos, na quarta colocação do torneio, empatado com o Internacional.
Foi contra o mesmo adversário deste último domingo, no mesmo estádio, que a equipe de Tite se apresentou como a mais forte do país, ainda no começo do ano. Após aquela vitória por 2 a 0 na fase de grupos da Libertadores, muita coisa aconteceu, entretanto.
O Corinthians tropeçou em casa no Paulista e no continental em dois reveses que, em outros tempos, teriam efeitos devastadores no Parque São Jorge. Duas eliminações, contra o maior rival, Palmeiras, e para o Guaraní, do Paraguai, e uma reestruturação que tirou do elenco a sua maior estrela, o peruano Paolo Guerrero. Tite nunca balançou.
A equipe se levantou de forma rápida e voraz: enfileirou vitórias, conquistou o hexacampeonato brasileiro e está prestes a sacramentar a melhor campanha do torneio disputado por 20 clubes, desde 2006 – já igualou os 80 pontos do Cruzeiro de 2014, mas com melhores ataque e defesa.
O São Paulo caiu. Caiu no Paulista, caiu na Libertadores, caiu na Copa do Brasil. Nunca se colocou como candidato ao título nacional. Muricy Ramalho caiu, Juan Carlos Osório caiu, Doriva caiu. Até o presidente Carlos Miguel Aidar caiu, envolto em graves denúncias.
Em Itaquera, protagonizou a humilhação suprema: foi goleado por seu principal adversário formado por uma maioria de reservas, no dia em que a ele seria entregue a taça do mais importante campeonato do país. Um pesadelo tricolor construído não em dois tempos de 45 minutos, três gols sofridos em cada, mas em uma temporada. O 6 a 1 será eterno.
Tite já tinha avisado que não escalaria Gil, Renato Augusto e Elias, que haviam defendido a Seleção, na terça-feira, e o Corinthians, dois dias depois, no empate em 1 a 1 com o Vasco que garantiu o título brasileiro. Não se esperava, porém, que ele escalasse, contra o São Paulo, apenas três titulares que iniciaram o duelo de São Januário.
Os primeiros 15 minutos deram ao torcedor alvinegro a impressão de que a escolha poderia atrapalhar a festa preparada para a Arena. O time não se acertava, dois erros individuais (Bruno Henrique e Cássio) deram ao São Paulo duas oportunidades de fazer o gol.
Depois disso, porém, a equipe se arrumou. Os jogadores em campo emulavam as funções do titulares com qualidade – Danilo, Rodriguinho, Bruno Henrique, Lucca e Romero atuavam como Jadson, Renato Augusto, Elias, Malcom e Vagner Love. Uma organização de fazer inveja a Milton Cruz, que ainda perdeu Ganso, com dores musculares, pouco antes da partida.
Mas em Itaquera, a superioridade alvinegra ia além da tática. Era, principalmente, de comportamento. Os erros defensivos do São Paulo ajudaram, mas não se viu, nos atletas tricolores, qualquer reação – seja pela possibilidade ainda plausível de conquistar uma vaga na Libertadores de 2016, seja pela honra e história do mais vitorioso clube brasileiro.
Na função de Elias, Bruno Henrique entrou na área como o titular costuma fazer e obrigou Denis a realizar grande defesa. Na cobrança de escanteio, Felipe cabeceou, o goleiro tricolor salvou mais uma vez. Mas Denis jogava sozinho. No rebote, o mesmo Bruno Henrique abriu o placar, sem que ninguém de camisa tricolor o atrapalhasse.
Foi assim também no segundo gol, quando Romero, 1,77 metro, cabeceou dentro pequena área, escoltado por Lucão. Denis falhou no terceiro, ao devolver a bola nos pés de Edu Dracena.
O quarto tento está na galeria de grandes momentos alvinegros no ano: troca de passes entre Romero, Bruno Henrique, Danilo, de letra, e Lucca, que finalizou. O paraguaio ainda teve a ajuda de Hudson no quinto, enquanto Cristian exigiu bater o pênalti do sexto, com a comemoração que planejava repetir desde 2009. Carlinhos fez o de honra do São Paulo pouco antes.
Aos corintianos, o placar pouco importava: a festa estava garantida com a entrega do troféu ao fim da partida. Mas com 2 a 0, aos 31 minutos do primeiro tempo já iniciaram os gritos de "olé". A provocação se estendeu pelo restante do confronto.
Tinha celebração, mas ainda era um clássico. O clima de festa, em alguns momentos, deu lugar ao nervosismo. Fagner e Thiago Mendes se estranharam na ponta esquerda do ataque do São Paulo. Depois, Felipe bateu boca com Rogério, que reclamou de uma falta dentro de área do Corinthians. As coisas se acalmaram depois, com o placar definido.
Milton Cruz tentou mudar o time no intervalo. Colocou Luis Fabiano e Reinaldo na equipe, nos lugares de Bruno e Rogério. Assim, recuou Kardec para a armação, colocou Carlinhos pela meia-esquerda e Hudson na lateral direita. A alteração foi inútil: a atitude se manteve, o Fabuloso em nada ajudou e Reinaldo ainda cometeu o pênalti do quinto gol alvinegro.
Já estava 6 a 1 quando Edu Dracena deu um carrinho para tentar tirar a bola de Carlinhos, que caiu dentro da área alvinegra. A marcação, polêmica, foi a primeira penalidade contra o Corinthians em todo o Campeonato Brasileiro. Alan Kardec bateu mal, Cássio pegou e fechou a noite dos hexacampeões da melhor forma.
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