Por: Rubens Crespo
Eu não sou corrupto, diz qualquer brasileiro que encontramos na rua, no trabalho, na escola, etc. Quando acusamos os parlamentares de corruptos, nem sempre lembramos que o Congresso é um espelho da nossa sociedade, pois afinal foi eleito por todos nós, que constituímos essa sociedade.
Todos nós, costumamos em nosso cotidiano praticar, quase sem pensar, pequenas ações inadequadas que redundam em maior ou menor prejuízo ao bem comum e que, a rigor, poderiam ser classificados como atos de corrupção.
Quem, dentre nós, jamais arriscou, por exemplo, uma “fezinha” no jogo do bicho, ou jamais participou de uma rifa não registrada, ou dum poquerzinho inocente, mas nem tanto. Pois a dinheiro, tudo isso devidamente proibido a particulares, pois em nossa sociedade os jogos de azar com prêmios em dinheiro, como Mega Sena, são monopólios do Estado.
Para exigir honestidade dos nossos representantes no Legislativo, nem nós, nem os médicos, os dentistas, os engenheiros, os arquitetos e os advogados deveríamos perguntar se queremos pagamentos com ou sem recibo, isto é com preço maior ou menor conforme se paga o Imposto de Renda. Agindo assim criando um caixa dois particular, que moral temos para exigir que todos os políticos sejam “ficha limpa”?
E mais, até que ponto podemos garantir que nunca ultrapassamos o sinal vermelho no trânsito, não deixemos de incluir aqui os ímpetos que sentimos de furar a fila nos bancos e também acostumamos a pedir para funcionários dar um “jeitinho” quando há alguma irregularidade em nossos pedidos, em nossas ações ou em nossos documentos.
Raríssimas são as pessoas que não praticam esses pequenos desvios na nossa sociedade. Se praticamos a todas essas pequenas irregularidades, como podemos garantir que, se tivermos oportunidade de obter “dinheiro grosso”, vamos resistir a corrupção? Devemos usar como tema o ditado: “ou haja moralidade ou nos locupletamos todos”?
De todo modo, acima de tudo, não devemos ser como o parlamentar Demóstenes Torres, arauto anticorrupção por fora e totalmente corrompido por dentro. Será que somos melhores que nossos políticos? De onde vêm os políticos corruptos ou empresários desonestos, aqueles que tanto criticamos? Vêm da nossa sociedade. De um modo geral e, obviamente uns mais que outros, todos somos corruptos. Deste modo, o problema não está na desonestidade da política, mas sim na desonestidade da sociedade em geral.
A corrupção, o câncer da nossa sociedade é grotesca devido a colonização do Brasil, quem vinha para cá, somente os que tinham pena de condenação pra ser cumprida, mais tarde vieram os escravos, e também as invasões de outros países.
Assim sendo, a grande questão que se coloca é: de que modo poderemos alterar a nossa sociedade para que não seja intrinsecamente corrupta?
Alguns dizem que criar leis mais severas ou aplicar as leis existentes de forma mais dura pode ser a solução para o problema. Sabe-se também que a melhor forma de combater a corrupção seria através da educação, da religião e da consciencialização de toda a gente; através de exemplos concretos contra a corrupção para os jovens, nas salas de aula e fora delas; através de campanhas de sensibilização para toda a população.
De fato, se olharmos pra os países que estão listados no “Corruption Perceptions Index” (Índice de Percepção da Corrupção – IPC, ranking de países por seus níveis percebidos de corrupção, em uma escala de 100 “muito limpo” a 0 “altamente corrupto”), como sendo aqueles que a percepção de corrupção no setor público é o menor, facilmente conseguimos identificar muitos deles como países onde existe um nível mais elevado de educação e de responsabilidade cívica.
Então, quando esse antídotos fizerem efeito passo a passo, a longo prazo diminuirá drasticamente a tal da corrupção , “o câncer da nossa sociedade”!
Comentários