Ainda que o mundo dissesse que a magia do Natal tenha sido construída pela sociedade de consumo, a maior recompensa para Antonio Carlos Ferrari era poder ver o sorriso e a alegria das crianças. Este ano, o famoso Papai Noel de Dourados, que também fazia parte da programação natalina do Shopping China não está presente. O coração foi traiçoeiro com o bom velhinho cedo demais, mas nem a ausência apaga a ilusão deliciosa sobre o Natal que ele deixou.
Na série “O que ficou de quem partiu” quem conta em detalhes a jornada deste Papai Noel que deixou saudade é a filha e advogada Ana Carla Santos Ferrari, de 26 anos. Quando o pai ainda estava hospitalizado nos primeiros dias de janeiro deste ano, ela lembra que o que deixou ele mais triste foi não poder encerrar 2019 com a roupa vermelha e estar presente no Natal.
Antonio teve um mal súbito enquanto trabalhava no Shopping China, em Pedro Juan Caballero. Ficou quase um mês internado e faleceu no dia 5 de janeiro de 2020 após complicações de uma cirurgia cardíaca.
Antonio deixava a barba crescer o ano todo só para estar barbudo no Natal.
Apesar da imensa saudade, o pai soube deixar viva toda magia do Natal para a família, especialmente para os filhos.
“Ele sempre manteve a ilusão do Papai Noel viva em nossa vida. Descobri que ele era o Papai Noel quando já era mocinha. Lembro-me der ser criança e meu pai sair dizendo que ia sair e já voltava, logo após o Papai Noel chegava e a magia acontecia, assim que ele retornava dizíamos que ele havia perdido a visita do Papai Noel, mas com a felicidade do momento e a inocência de criança, não imaginávamos que ele era o nosso bom velhinho”.
Ana e os irmãos Antonio Carlos Ferrari Junior, 28 anos, e Adolfo Felipe Santos Ferrari, 24, só tomaram conhecimento de que ele era o Papai Noel quando ficaram maiores, e o Papai Noel não era mais vivido apenas no Natal e sim o ano todo por ele.
“Ele sempre amou contar as histórias que vivia do Natal, mas as principais eram a de que quando tinha 26 anos de idade conheceu uma moça que quando criança tinha muito medo do Papai Noel, a qual se tornou sua esposa e mãe de seus filhos”, lembra.
“Outra, é de que uma vez quando participava de uma cantata de natal, o seu filho caçula foi impedido de entrar no salão e ele gritava “eu sou o filho do Papai Noel”, até que foi atendido e orgulhoso de ser atendido por seu pai o Papai Noel”, acrescenta a filha.
Antonio nasceu no dia 21 de março de 1958 em Presidente Venceslau (SP). Filho caçula, casou-se 1991 com Suzana Fatima Mattos dos Santos Ferrari, e tiveram três filhos. Ele iniciou sua jornada profissional ainda no interior de São Paulo, onde trabalhava como uma espécie de faz-tudo no Jornal Integração de Venceslau, onde iniciou sua paixão pelo meio jornalístico.
Em 1993 em visita a Mato Grosso do Sul, conheceu Paulo Afonso Flores Falcão, que acabará de criar o “Diário do Povo”, hoje “Diário MS”, no mesmo ano veio para trabalhar no jornal em Dourados, onde fixou sua residência.
Após o trabalho, exerceu diversas atividades, porém o jornalismo sempre foi sua paixão. No ano de 2000, mudou-se para Itaporã onde era representante dos jornais O Progresso e Correio do Estado, no ano de 2004 realizou concurso público e no ano de 2005 assumiu seu cargo como servidor público municipal.
Mesmo exercendo seu cargo público, sua paixão pelo jornalismo sempre esteve viva e fundou o site de notícias ItaporãHoje, que posteriormente se tornou FerrariNews, o qual, segundo a filha, amou e cuidou com carinho e respeito até o ultimo dia de sua vida.
A vida de Papai Noel – Sua jornada como Papai Noel surgiu em 1984, como voluntário na APAE de Presidente Venceslau, e depois profissionalmente quando veio para Dourados, onde foi contratado para ser o Papai Noel da extinta loja Brasimac, não parando mais.
“Ele foi Papai Noel em diversas lojas e shoppings da região, e na noite de Natal em casas de família, o qual levava todo o seu amor junto aos presentes das crianças, tornando-se bastante conhecido, não deixando de fazer o trabalho voluntário que sempre amou".
No início usava uma barba artificial, mas com o tempo foi incorporando o bom velhinho por todo o ano, deixando a barba crescer.
Para a filha, o seu Ferrari ou o Papai Noel de Dourados sempre estará vivo no coração da família.
“A alegria de viver, o amor e dedicação por tudo o que se prestava a fazer, a garra e a ousadia. Ele não tinha medo de enfrentar o que entrasse em seu caminho e de sua família”, lembra Ana.
Se aqui estivesse, ela não tem dúvidas.
“Ele estaria ansioso e mesmo no meio da pandemia, não restam dúvidas de que ele seria o Papai Noel este ano, ele amava ser o Papai Noel”.
E se como filha tivesse uma segunda chance, ela afirma que escolheria Antonio como pai outra vez.
“Ele era amigo, companheiro, extremamente amoroso, duro quando preciso, sonhador e determinado, ninguém é perfeito, mas ele foi o melhor que ele pode ser. Quando ele partiu não perdi somente meu pai, mais meu melhor amigo e confidente. Como Papai Noel, ele deixou a alegria, o amor e esperança. Pois sempre acreditou que o amor ao próximo e o respeito podem nos dar um mundo melhor”, finaliza.
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