No dia do assassinato do empresário Adriano Correia do Nascimento, de 32 anos, o policial rodoviário federal Ricardo Hyun Su Moon, de 47 anos, apresentou duas versões a polícia, uma para os militares que atenderam a ocorrência e outra para o delegado responsável pelo caso. No segundo depoimento, o policial afirmou que abordou e atirou contra a caminhonete por sentir que estava em perigo de ser assaltado ou executado pelos ocupantes do veículo.
O primeiro depoimento foi apresentado a Polícia Civil pela guarnição da Polícia Militar que atendeu a ocorrência. Os militares foram até o endereço, a Avenida Ernesto Geisel, no cruzamento com a 26 de Agosto, e encontraram o policial rodoviário federal a meia quadra de onde uma caminhonete Hilux havia colidido com um poste.
Neste momento, Ricardo contou que seguia no seu veículo, uma Pajero, quando foi fechado pelo condutor da Hilux. Ele seguiu o caminho, mas poucos metros depois, foi novamente fechado pela caminhonete. Desconfiando que o motorista estivesse embriagado, ele afirma que resolveu abordar o veículo.
Segundo a versão contada por ele, acelerou e parou poucos metros à frente, desceu da Pajero, avisando ser policial, deu ordem de parada ao condutor da caminhonete. Para os militares, o policial rodoviário afirmou que Adriano não obedeceu e jogou o veículo para cima dele, em uma tentativa de atropelá-lo. No registro, chega a se falar que a vítima atingiu o policial, deixando sua roupa, que ele afirma ser a farda da PRF, suja de terra.
Só depois disso, segundo o primeiro registro, os disparos foram feitos. A caminhonete seguiu por mais alguns metros até colidir com o poste. Adriano, que dirigia a Hilux, levou tiros no peito e morreu no local, Agnaldo Espinosa da Silva, de 48 anos, estava no banco do passageiro quebrou o braço por conta do acidente de trânsito e um adolescente de 17 anos, que estava no bando de trás, levou dois tiros nas pernas.
O policial foi levado para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro. Lá, acompanhado de um advogado, contou outra versão para o fato, essa baseada em ameaças e legítima defesa. No início do depoimento Ricardo contou que é policial rodoviário federal há 6 meses e antes disso, trabalhou por dois anos como policial civil na Delegacia de Investigação de uma cidade do interior de São Paulo.
Ele contou que ia até a rodoviária para pegar um ônibus com destino a Corumbá, a 416 quilômetros de Campo Grande, onde é lotado. Enquanto seguia com sua Pajero pela Avenida Ernesto Geisel, viu a caminhonete Hilux, que estava em alta velocidade na Rua Pimenta Bueno, fazer uma manobra brusca para entrar na avenida, quase colidindo com ele.
O policial manteve a versão de que ao passar perto da caminhonete, foi novamente fechado pelo motorista da Hilux e para evitar a colisão precisou reduzir a velocidade e desviar.
Próximo ao cruzamento com a Rua 26 de Agosto, Ricardo alegou que parou no semáforo e percebeu que a caminhonete parou logo atrás. Sentindo que estava correndo perigo de um assalto ou uma execução, desceu do carro segurando a arma ainda na cintura, uma pistola .40, se identificou como policial e pediu para que os ocupantes do veículo mostrassem as mãos.
Nesta hora, segundo o policial, ele notou que havia dois homens no carro. Eles proferiram palavras que ele não conseguiu entender e por isso, com uma lanterna na mão, resolveu se aproximar. Para o delegado, Ricardo contou que repetiu ser policial e também o pedido para eles mostrarem as mãos, e que só nesse momento viu o terceiro ocupante do veículo, no banco traseiro, depois foi identificado como o adolescente de 17 anos.
A partir daí, o policial rodoviário federal relatou que pelo vidro notou o adolescente tentando pegar alguma coisa, que notificou as três vítimas novamente e desta vez viu Agnaldo Espinosa e o adolescente descerem da Hilux. Ambos teriam o ameaçado. "Vamos te pegar".
Assustado com a aproximação dos dois homens, o policial conta que sacou a arma e ligou para a Polícia Militar. Ele narra que a dupla voltou para o veículo e por isso ficou por perto, mas quando foi para frente da caminhonete, Adriano acelerou a Hilux para cima dele. Para a Polícia Civil, o homem contou ainda que foi atingido nas pernas e então disparou. Ele chegou a relatar que neste momento viu um objeto preto na mão do adolescente.
Diante do delegado, Ricardo afirmou que só descobriu da morte de Adriano na delegacia. Que somente "reagiu dessa maneira para preservar sua integridade física, especialmente sua vida" e que não tinha nenhuma animosidade contra as vítimas, pois nem os conheciam.
O caso agora é investigado pela 1ª Delegacia de Polícia Civil. O policial foi preso novamente nesta quinta-feira (5) depois de ter o mandado de prisão preventiva decretada pelo juiz, a pedido do Ministério Público Federal. Desde cedo, Ricardo está detido em uma cela do Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros).
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