Rio de Janeiro

Esposa sedava empresário e usava terreiro de umbanda para desviar fortuna de R$ 27 milhões

(Foto: reprodução) (Foto: reprodução)

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) diz ter descoberto um esquema montado pela mulher de um empresário da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, para roubar toda a fortuna do milionário, usando um terreiro de umbanda para lavar dinheiro.

Segundo os investigadores, Wilde Pinheiro de Lima, de 88 anos, que atuou no ramo de refrigerantes, vinha sendo sedado e induzido a transferir todo o patrimônio, avaliado em R$ 27 milhões, para Wandrea Sobreiro, de 49 anos, com quem era casado.

Apesar das suspeitas, a mulher ainda vive na cobertura do ex-marido, na Praia da Barra, avaliada por corretores em R$ 3,5 milhões. Foi de lá que Wilde foi resgatado pela polícia, após cerca de cinco anos sendo impedido de ter contato com a família. Ele foi encontrado com sinais de maus-tratos e desnutrido.

As transferências bancárias induzidas pela mulher, segundo o PM, eram feitas em formato de doações religiosas a um terreiro de umbanda e aconteciam da seguinte forma:

Doações a 'Exu' e 'Ogum'

Genise recebeu dois depósitos que totalizaram R$ 12 milhões em setembro de 2013. Nos dois documentos, havia a mesma exigência: Genise teria a obrigação de repassar o dinheiro para o terreiro umbandista Rompe Mato. Segundo o MP, era um esquema de lavagem de dinheiro.

"Então, uma das doações, pseudo doações, foi de R$ 12 milhões sob o argumento que seriam R$ 7 milhões para Exu e R$ 5 milhões para Ogum, segundo consta. E porque ela fez isso? Ela arquitetou essa trama toda porque, se no final esse golpe fosse descoberto pelas autoridades, a percepção pela polícia, pelo Ministério Público, ela se colocaria como lesada. Vítima tanto quanto o senhor de idade que era o convivente dela (...) Ela seria vítima de um golpe religioso, teria sido ludibriada por uma pseudo mãe de santo", explicou o promotor Cláudio Calo.

O dinheiro do empresário também foi usado para Wandrea comprar imóveis: ela adquiriu dois apartamentos e duas salas comerciais. Os valores dessas transações chegaram a R$ 1,5 milhão.

A família do empresário procurou o Ministério Público. Em 2016, Wandrea foi convocada para prestar depoimento na delegacia. Foi a oportunidade que a família teve para tirar Wilde do apartamento.

"Até que a gente foi com polícia, criminal, com delegado, com tudo. E ele estava todo urinado, imundo, mal nutrido. Uma coisa horrorosa (...) Tiramos ele de casa", explicou a filha mais velha do empresário.Resgatado por policiais, o empresário foi morar com a filha do primeiro casamento, e sobrevive com uma renda – R$ 10 mil – que sai da conta da mãe de santo Genise.

"Ela transferiu todo o patrimônio dele. Ele não tem absolutamente nada na conta. Um sujeito que tinha seguramente em 2013, uns R$ 21 milhões na conta. Não tem dinheiro nenhum e hoje a Justiça autorizou que ele recebesse R$ 10 mil desse dinheiro bloqueado na conta dos investigados nesse processo para que ele pudesse custear minimamente a vida com medicamentos e outras coisas básicas", explicou o promotor.

Wandrea ficou morando na cobertura, que está no nome da filha que teve com Wilde, mas a família entrou na Justiça com um pedido de investigação de paternidade.

"O total desviado, eu acredito, que esteja estimado em torno de R$ 27 milhões. Na conta do terreiro, R$ 16 milhões. Na conta de outros denunciados, inclusive já tem denunciado que morou na comunidade da Rocinha que teve uma movimentação de R$ 5 milhões", explicou o promotor.

Desvios começaram após o casamento

O relacionamento de Wilde e Wandrea começou em 2011 após o empresário se separar da mulher com quem ficou casado por 30 anos. Na ocasião, Wilde tinha 80 anos e Wandrea, 42.

"E fez isso com ele, deixou a família à parte. A gente não podia entrar aí, a gente não podia vê-lo. Aí, a gente ficou um ano e meio, dois anos e ela não deixando a gente ter acesso a ele", explicou a filha do empresário."A coisa foi crescendo, essa dificuldade foi aumentando, até um dado momento em que eles não conseguiam mais encontrar com o pai", explicou o advogado do empresário, Marcus Crissiuma.

De acordo com o advogado, os filhos do empresário pensaram numa possível interdição e a partir daí se iniciou uma investigação dos órgãos públicos para entender se havia alguma procuração concedida a alguém. Buscavam entender o sumiço de imóveis e tudo o que estava se passando.

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