Policial

Polícia conclui que pastor molestou o filho e o enteado antes de matá-los no ES

Kauã e Joaquim foram mortos na casa onde moravam, em Linhares, no dia 21 de abril. O delegado responsável disse que as vítimas foram queimadas vivas após serem abusadas. O pastor está preso.

A Polícia Civil concluiu que o pastor George Alves matou o próprio filho, Joaquim Alves Salles de 3 anos, e o enteado Kauã Salles Butkovsky de 6 anos. O resultado do inquérito policial foi divulgado nesta quarta-feira (23). A perícia aponta que o acusado estuprou as crianças, agrediu e colocou fogo nelas ainda vivas.

crime aconteceu em Linhares, na região Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril. Inicialmente, o pastor George Alves, que estava sozinho em casa com os meninos, disse que eles morreram em um incêndio que atingiu apenas o quarto onde as vítimas dormiam. Na primeira entrevista à imprensa, ele chorou e disse que tentou salvar as crianças. Mas, segundo a polícia, a versão dele não estava de acordo com os fatos apurados durante as investigações.

A mãe, de acordo com o inquérito, não tem participação no crime e não é investigada. Ela foi procurada pela reportagem, mas não quer se manifestar neste momento. No dia do crime, Juliana Salles estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal. Nesta quarta-feira, ela está em Linhares e não fala com a imprensa.

O acusado está preso temporariamente desde o dia 28 de abril porque mudou o local do crime e fez contato com testemunhas, segundo a polícia. A Justiça decidiu, na noite desta terça-feira (23), prorrogar a detenção por mais 30 dias.

Ele foi indiciado por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulneráveis. A soma máxima das penas pode chegar a 126 anos. A polícia disse que o inquérito vai ser encaminhado à Justiça na próxima semana.

Abuso sexual e morte

O delegado André Jaretta, de Linhares, disse que um "conjunto de indícios demonstra que, naquela madrugada, o investigado, inicialmente, molestou as duas crianças, tanto o filho biológico Joaquim quanto o enteado Kauã, mantendo um ato libidinoso".

Jaretta contou que para ocultar o ato sexual, comprovado pela perícia, George agrediu as crianças. Essa agressão também foi confirmada pelos vestígios de sangue no banheiro. O exame de DNA atestou que o material era de Joaquim.

"Com as duas vítimas ainda vivas, porém desacordadas, o investigado as levou até o quarto, as colocou na cama e ateou fogo nas crianças, fazendo com que elas fossem mortas com o calor do fogo", explicou Jaretta.

O delegado disse ainda que os meninos morreram pela carbonização. “Isso tudo é comprovado pelo exame pericial. As crianças continham fuligem na traqueia e o exame demonstrou que elas ainda respiravam quando começou o incêndio”, afirmou.

André Jaretta explicou que, depois de tudo, George saiu de casa e não chamou socorro, até que alguém aparecesse.

“Feito isso, o investigado foi para a parte externa da casa e, sem que abrisse o portão, ficou andando de um lado para o outro, até que vizinhos vissem o cenário e, por conta própria, prestassem auxílio. Mas, quando eles chegaram, não havia mais condições de socorro”, destacou.

O secretário de estado de Segurança Pública, Nylton Rodrigues, falou sobre o resultado das investigações.

Pela manhã, a defesa disse que ainda não teve acesso ao inquérito. "Até o momento a defesa não teve acesso a uma perícia que pode incriminá-lo. Estamos aguardando para podermos nos manifestar sobre isso", disse a advogada Taycê Aksacki. Depois da coletiva, o G1 ainda não conseguiu estabelecer contato com a advogada.

Inquérito policial

Para concluir o inquérito, a polícia analisou os resultados de perícias feitas na casa, os depoimentos do pastor e de testemunhas, exames realizados nos corpos dos meninos e imagens gravadas após a morte das crianças.

G1 listou os pontos mais importantes narrados durante a coletiva da polícia concedida nesta quarta-feira:

  • A polícia encontrou sangue na casa onde aconteceu incêndio, próximo a uma escrivaninha e ao box do banheiro;
  • Naquela madrugada do dia 21 de abril, o pastor, inicialmente, molestou as duas crianças, tanto o filho quanto enteado, mantendo ato libidinoso;
  • Com as duas vítimas ainda vivas, porém desacordadas, o investigado as levou até o quarto, as colocou na cama e ateou fogo nas crianças;
  • O perito disse que a fumaça não foi responsável pelas mortes e as crianças não reagiram ao incêndio, porque já estavam desacordadas;
  • Não foram encontrados vestígios de curto-circuito nem nos equipamentos (ar condicionado, reator, babá eletrônica e esterelizador), nem nas fiações
  • Os componentes da babá eletrônica ficaram bem preservados, incompatível para ser o foco inicial
  • Depois do crime, o investigado saiu de casa e ficou andando de um lado para o outro, sem pedir socorro;
  • Testemunhas ouviram o choro e manifestações de socorro quando as crianças estavam sendo agredidas, minutos antes do incêndio;
  • As testemunhas que chegaram primeiro ao local contaram à polícia que arrombaram o portão com as próprias mãos;
  • As vítimas foram encontradas no foco inicial do incêndio, quando, normalmente, a vítima morre tentando fugir do foco das chamas;
  • Não há indícios da participação ou conivência da pastora, mãe das crianças, no crime;
  • O pastor estava sozinho na casa com as vítimas e não há previsão de que outras pessoas sejam presas;
  • O inquérito deve ser encaminhado à Justiça na próxima semana;
  • O pastor vai responder por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulnerável. A soma máxima das penas é de 126 anos.
  • Não há registro de outros casos de pedofilia envolvendo o pastor.

Cronologia do caso

21 de abril - Quarto das crianças pega fogo

  • O quarto onde Joaquim e Kauã dormiam pega fogo por volta das 2h da madrugada;
  • Quando os bombeiros chegam ao local, as duas crianças já estão sem vida;
  • O pastor George Alves, pai de Joaquim e padastro de Kauã, estava em outro quarto da casa;
  • A mãe das crianças, Juliana Salles, estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal;
  • Por falta de legistas no Serviço Médico Legal de Linhares, os corpos são levados para Vitória;
  • Coronel Ferrari, do Corpo de Bombeiros, diz que uma das hipóteses era falha em equipamento elétrico.

22 de abril - Pastor celebra culto após mortes

  • George Alves comandou um culto da Igreja Batista Vida e Paz, da qual participa;
  • O casal de pastores recebe abraços de conforto dos fiéis.
  • Menos de 24 horas depois do incêndio, George e a esposa são vistos em uma lanchonete. O pastor tinha os dois pés enfaixados, mas um exame de lesão corporal indicou que ele teve uma queimadura do tamanho de uma moeda somente em um pé.

23 de abril - Pais vão ao DML de Vitória

  • George e Juliana vão ao Departamento Médico Legal de Vitória para coletar material para exame de DNA;
  • George, que estava na casa na hora do incêndio, concede entrevista à imprensa e disse que tentou entrar no quarto para salvar as crianças;
  • Também esteve no DML de Vitória, para fazer coleta de material, o pai biológico de Kauã, Rainy Butkovsky.

24 de abril - Pastor é interrogado

  • O pastor George Alves é interrogado na Delegacia Regional de Linhares;
  • O depoimento dura mais de três horas;
  • Uma segunda perícia é realizada pela Polícia Civil e pelo Corpo de Bombeiros na casa onde ocorreu o incêndio;
  • Peritos colhem informações e imagens de câmeras na vizinhança.

25 de abril - Pastor é interrogado pela 2ª vez

  • George e Juliana são interrogados;
  • Polícia Civil não fala sobre o conteúdo dos depoimentos.

26 de abril - Testemunhas são ouvidas

  • São ouvidas pela polícia duas mulheres que viviam na casa com Juliana, George, Joaquim, Kauã e o outro irmão deles;
  • As mulheres ouvidas não estavam na casa no momento do incêndio;
  • Outras cinco testemunhas prestariam depoimento, mas pediram adiamento;
  • Com a casa isolada, Geoge e Juliana ficam em um hotel da cidade com o outro filho.

27 de abril - Casa passa pela 3ª perícia

  • Uma nova perícia é feita na casa onde ocorreu o incêndio;
  • Peritos, policiais civis e promotores participaram;
  • A perícia dura mais de quatro horas com uso de luminol, usado para identificar sangue;
  • Homem presta depoimento e diz que foi o primeiro a chegar na casa após o incêndio.

28 de abril - Pastor é preso

  • Mandado de prisão temporária, de 30 dias, é expedido pelo juiz Gécio Grégio contra o pastor;
  • George Alves é preso em hotel em Linhares;
  • Autoridades informam que o pastor atrapalhava as investigações;
  • Pastor passa por exames no Serviço Médico Legal de Linhares;
  • George é levado para a Penitenciária Regional de Linhares;
  • Juliana afirma que já esperava pela prisão do marido por conta da linha de investigação da polícia;
  • George é transferido para o Centro de Detenção Provisória de Viana II, na Grande Vitória.

30 de abril - Carro é apreendido

  • O carro emprestado que era usado pelo pastor George Alves é apreendido pela polícia;
  • Veículo era de um membro da Igreja Vida e Paz;
  • Peritos estiveram na casa mais uma vez e saíram com sacolas, baldes e pás.

2 de maio - Carro passa por perícia com luminol

  • Bombeiros vão mais uma vez até a casa e saem com objetos, entre eles a parte do aparelho de ar-condicionado do quarto;
  • À noite, peritos usaram luminol no carro emprestado ao pastor;
  • Polícia não informa se algo foi encontrado.

3 de maio - Pastora presta depoimento

  • Juliana Salles presta depoimento e sai chorando da delegacia;
  • Pastora vai à delegacia acompanhada pela advogada;
  • Dono do carro apreendido vai a delegacia de Linhares durante a manhã;
  • No fim da tarde, o veículo é devolvido;
  • Bombeiros também são ouvidos.

4 de maio - Autoridades fazem reunião

  • Autoridades envolvidas na investigação do caso se reúnem na delegacia de Linhares;
  • Imagens gravadas por câmeras são analisadas pela polícia.

7 de maio – Exame de DNA concluído

  • O chefe da Polícia Civil, Guilherme Daré, e o secretário de estado de Segurança, Nylton Rodrigues, se reúnem com delegados em Linhares;
  • O laudo do exame de DNA para identificar os corpos dos irmãos Joaquim e Kauã é concluído;
  • Corpos são colocados à disposição da família para serem liberados no DML de Vitória.

8 de maio – Pastor não vai a enterro de filho e enteado

  • Uma das advogadas do pastor George Alves informa que a defesa não vai pedir autorização da Justiça para que ele saia da prisão para o enterro do filho e do enteado, por questão de segurança;
  • A advogada também fala que a pastora Juliana Salles, mãe das crianças, tem intenção de pedir escolta policial para acompanhar o enterro;
  • Além disso, ela informa que não há previsão de velório, somente de enterro.

9 de maio – Corpos são levados para Linhares

  • A pastora Juliana Salles consegue autorização da Polícia Militar para ter escolta policial durante o enterro dos filhos;
  • Os corpos dos meninos são buscados pelo veículo de uma funerária à noite, no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, e levados para Linhares.

10 de maio – Corpos são enterrados

  • Os corpos dos irmãos Joaquim e Kauã são enterrados às 9h, no Cemitério São José, em Linhares.

17 de maio - Pastor é investigado por homicídio

  • A polícia pede a prorrogação da prisão temporária, de 30 dias, do pastor George Alves;
  • Pela primeira vez, os delegados que atuam na investigação falam sobre o caso;
  • O delegado André Costa disse que a Polícia Civil trabalha com a linha de investigação de homicídio;
  • A delegada Suzana Garcia afirmou que a polícia pretende entregar em breve o resultado da investigação.

21 de maio – Pai presta depoimento

  • O pai do menino Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, Rainy Butkovsky, prestou depoimento na Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra;
  • Moradores de Linhares fizeram uma homenagem aos irmãos mortos carbonizados dentro do próprio quarto, num ato simbólico em frente à casa deles.

22 de maio - Ministério Público pede para que pastor continue preso

 

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