Ficaria por dois dias sem comer e beber e, neste período, rezar para salvar a legibilidade de um político, ou seja, abonar a conduta dele ao ponto de permitir que se candidate, de novo, a um cargo eletivo? Inusual proposta partiu do vice-prefeito da cidade de Iguatemi, José Roberto Felippe Arcoverde, o Zé Roberto, do MDB, que está com a corda no pescoço por ter as contas reprovadas no período que era o prefeito da cidade, em 2015.
Na terça-feira, 12, os nove vereadores da cidade votam se Zé fica, ou não, inelegível nas próximas eleições, marcada para o dia 6 de outubro do ano que vem. O plano do vice é voltar a ser prefeito do município de quase 14 mil habitantes, a 496 quilômetros de Campo Grande, já na divisa de Mato Grosso do Sul com o estado do Paraná. Ele administrou o município de 2009 a 2016.
A SUPLICA
“Neste momento desafiador, quero pedir a todos nós, como uma comunidade unida, que nos unamos na próxima segunda e terça-feira dia onze e doze, em oração e jejum”, panfletou o vice-prefeito.
Zé Roberto inicia o comunicado dizendo que encontra-se com o “coração pesado e uma “preocupação profunda” pela cidade e pelo “futuro”.
Mesmo sem detalhar o motivo da votação da Câmara que pode deixar Zé Roberto, hoje com 56 anos idade, inelegível, ou com a ficha suja, ele jura, no panfleto, que é inocente.
“Como muitos de vocês sabem, tenho sido alvo de perseguição política e enfrentarei um julgamento sobre meu mandato anterior, por uma falha técnica que não me é imputável”, publicou o vice.
Caso seis dos nove vereadores acharem que Zé Roberto é culpado e concordarem com o relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que apontou falhas nas contas do ex-prefeito, ele está fora do pleito, ao menos até as próximas eleições.
Zé Roberto mostra-se interessado na busca pelo terceiro mandato porque rompeu pacto político com o atual prefeito, Lídio Ledesma, que é do PP e quer a reeleição.
O Correio do Estado tentou conversar com Zé Roberto, que é médico veterinário, na tarde deste domingo, mas não conseguiu. Assim que ele se manifestar, ou queira isso, este material será atualizado.
O JEJUM
O jejum proposto pelo vice-prefeito é o mesmo que ficar sem comer e beber. Jejum religioso é aquele em que alguém deixa de comer por motivos relacionados à fé. No chamado novo testamento, a bíblia, Jesus recomenda jejum para expulsar demônios - no caso de Zé Roberto, livrar-se de uma espécie de ficha-suja. O jejum é praticado há mais de cinco mil anos pela humanidade, segundo os religiosos.
O CASO
Conforme noticiou o Correio do Estado, edição do dia 8 de junho deste ano, o TCE havia emitido um parecer prévio de reprovação das contas anuais de Iguatemi, referente ao exercício de 2015.
O prefeito da cidade, na época, José Roberto Felippe Arcoverde, o Zé Roberto, atual vice-prefeito e foi chefe do executivo municipal de 2009 a 2016.
De acordo com o TCE, a ausência de inventário geral de bens imóveis, de documentos e a escrituração de modo irregular estão entre as justificativas para o parecer prévio contrário.
Segundo o relatório da corte fiscal, a 4ª Inspetoria de Controle Externo e a Auditoria se manifestaram contra a aprovação.
Após o primeiro parecer, a Procuradoria de Contas solicitou a intimação dos responsáveis, que apresentaram defesa e documentação solicitada.
Os documentos foram analisados pela Divisão de Fiscalização de Contas de Governo e de Gestão (DFCGG), que foi favorável à regularidade das contas, mas a Auditoria e a Procuradoria de Contas, seguiu apontando irregularidades.
O relator do processo, o Conselheiro Domingues Jeronymo votou pela emissão do parecer prévio contrário à aprovação das contas; pela recomendação ao atual prefeito de Iguatemi, Lídio Ledesma, para que ele observe as contas com mais rigor as normas aplicáveis à contabilidade pública; e pela intimação do resultado do julgamento aos interessados.
A Câmara Municipal de Iguatemi também emitiu parecer desfavorável às contas do município, seguindo o TCE.
Segundo o documento, o legislativo municipal alega que a conduta do então prefeito, e atual vice, foi reiterada em não relacionar o inventário de bens imóveis à prestação de contas, o que, segundo a Câmara, teria configurado dolo por parte do gestor.
“Devido à sua inequívoca ciência desta irregularidade e a intenção de prolongá-la, além dos prejuízos à população que decorrem da referida omissão dolosa, opina-se pela desaprovação das contas referentes ao exercício de 2015”, aponta a câmara municipal.
Confira pedido do vice:
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