Gislayne Barros era o tipo de mulher cheia de planos, mas também repleta de compromissos como mãe e professora de Educação Infantil. Até que o câncer apareceu e ensinou que viver é presente, não tem como vacilar.
Dois anos após a última sessão que quimioterapia, no fim de semana passada, ela subiu até o topo do Morro do Ernesto, em Campo Grande, ao lado da filha Victhória e da tia do ex-marido, que veio de São Paulo para acompanhar o momento.
É o primeiro desejo de uma lista de planos que, por pouco, o linfoma Hodgkin não a impediu de realizar.
O segundo sonho a morte já comprometeu. "Tinha combinado de viajar para a Escócia com uma amiga que eu já tinha havia 19 anos, mas ela faleceu de covid", lamenta.
E assim a morte apresenta seu principal significado: que o importante é hoje. "Eu vivia atarefada com minha profissão, a casa. Isso era tão cansativo que acabava deixando tudo que era divertido para 'amanhã", lembra
Mas ainda apareceram novas prioridades para a "segunda chance" de Gislayne. "Viajar agora é meu foco principal, mas também quero ajudar minha filha e ver ela realizar o sonho de cursar Medicina e também vou estudar para passar em concurso público", diz.
Primeiro da lista
Antes do diagnóstico em 2019 e do início das sessões de quimioterapia, os convites para ver a paisagem lá do alto do morro eram constantes. "Mas eu sempre dizia agora não", lembra.
Na primeira conversa séria com o médico, a sinceridade foi um golpe: "Ele disse que eu tinha 80% de possibilidade de cura, mas 20% de dar errado", conta. O tratamento inicial envolvia 16 sessões de quimioterapia. Caso a doença não regredisse, viria mais uma etapa, desta vez de quimio e radioterapia. Na pior das hipóteses, a sobrevivência dependeria de um transplante de medula óssea.
Mas tudo deu certo de saída na primeira fase e há dois anos Gislayne tentava recuperar a imunidade e a resistência física para cumprir a primeira promessa da lista. "No meio do caminho, ainda peguei covid, mas agora estou vacinada e me senti segura", diz.
O percurso foi feito em 1h20, mais longo que o normal, com paradinhas para descansar. Na bagagem, além da alegria de ter recuperado as forças para uma atividade exaustiva, Gislayne levou uma faixa para agradecer a Deus, sem esquecer dos médicos que, segundo ela, foram os anjos desta história. "Foi fé e ciência. Vários amigos eram contra quimio, diziam que ia acabar comigo, mas eu acredito na ciência e fiz".
Agora serão mias 3 anos de acompanhamento, exames periódicos, até a cura ser oficial. "Comecei fazendo exames semanais, hoje são semestrais já. Quero compartilhar isso para as pessoas entenderem que câncer não é sentença de morte", completa.
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