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Mortes por síndrome respiratória superam em 12 vezes as de covid em Campo Grande

Pesquisa indica que Campo Grande está o topo do ranking na disparidade na relação de mortes de síndromes respiratórias e covid-19

Drive-thru inaugurado no dia 13 de abril em Campo Grande para testagem de covid-19 (Foto/Divulgação: Chico Ribeiro) Drive-thru inaugurado no dia 13 de abril em Campo Grande para testagem de covid-19 (Foto/Divulgação: Chico Ribeiro)

Campo Grande aparece no top de ranking na comparação entre casos de mortes por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e novo coronavírus. Nos dados coletados em maio, havia 11,6 mortes atribuídas a causas respiratórias para cada uma pela covid-19.

Na relação aparecem, ainda, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre. Em comum, são capitais que apresentam baixos índices de casos confirmados e por mortes de covid-19, mas tem quase 12 vezes mais mortes por SRAG com causa não especificada.

A comparação dos dados foi realizada pela Lagom Data, do jornalista Marcelo Soares, que oferece serviço de dados e fez o levantamento para a Folha de S. Paulo. Os registros analisados foram os microdados de síndrome respiratória do OpenDataSus.

Em março, a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou pela primeira vez a possível relação entre as duas doenças, ao observar um disparo nas internações por síndrome respiratória em todo o Brasil, simultâneo à circulação mundial do novo coronavírus. A prática recomendada e geralmente adotada foi testar casos de SRAG como suspeitos de portar o vírus.

A relação, segundo a reportagem, é indicativo do problema na falta de padronização nacional de testagem de casos de SRAG, em que não há informação sobre frequência e níveis de eficiência. Quanto maior a proporção da população que se sabe ter sido contagiada pelo novo coronavírus, menor a proporção de mortes atribuídas a causas respiratórias inespecíficas.

No fim de maio, apenas quatro capitais no país mantinham em um dígito o número de mortos por covid-19: Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Palmas (TO).  Todas tinham pelo menos duas vezes mais mortes atribuídas à SRAG. No caso de Campo Grande, eram 81 mortes por SRAG para 7 pelo novo coronavírus.

A reportagem usa o exemplo do governo de Minas Gerais sobre a disparidade entre casos SRAG/Covid.

Em abril, visando pontuar no índice de transparência da Covid-19 elaborado semanalmente pela Open Knowledge Brasil, Minas começou a publicar os microdados dos pacientes notificados como suspeitos, confirmados ou descartados para o novo coronavírus. No começo de maio, análises independentes detectaram que o estado acumulava casos suspeitos do novo coronavírus que não haviam sido nem confirmados e nem descartados, ou seja, não foram testados.

No dia 13 de maio, o governo estadual deixou de publicar os dados dos suspeitos e declarou em seu boletim diário que todos aqueles pacientes sofriam de síndrome gripal inespecífica.

Àquela altura, Belo Horizonte contabilizava 32 mortos. Fortaleza, com população semelhante, tinha 44 vezes mais. Sem que isso constasse do “case” de sucesso mineiro, porém, a capital àquela altura acumulava 250 vítimas da síndrome respiratória, ou oito vezes mais mortes do que a baixa taxa celebrada.

O risco dessa estratégia é de que um governo julgue que o problema é apenas o nome da causa da morte. Testando pouco, ele pode dizer que está vencendo a Covid, mesmo que seus cidadãos estejam sendo derrotados pela síndrome respiratória.

Contestação – em nota, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) informa que faz a testagem de 100% das mortes de SRAG, feita pelo Lacen (Laboratório Central de MS) para influenza, covid-19 e painel viral (Metapneumovírus, adenovírus, parainfluenza 1, parainfluenza 2, parainfluenza 3, Vírus sincicial respiratório).

Até ontem, Mato Grosso do Sul registrou 218 mortes por SRAG este ano, sendo que 196 foram negativos para covid, ou seja, 22 dos casos são de óbitos por novo coronavírus. “Ressaltamos que, todas as SRAGs são tratadas como COVID-19 até que se tenha resultado laboratorial – considerando coleta oportuna - negativo ou outro diagnóstico”.

A reportagem entrou em contato com a Sesau sobre o assunto e aguarda retorno (Secretaria Municipal de Saúde).

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