Saúde

Pediatra fala sobre sonambulismo na infância

Pediatra Eduardo Marcondes aborda distúrbios do sono Pediatra Eduardo Marcondes aborda distúrbios do sono

Hoje vou tratar de outro tema relativo ao sono: o sonambulismo. Boas noites de sono são essenciais para a vida. Obedecendo à recomendação de dormir entre seis a oito horas por dia, o ser humano passa aproximadamente um terço de sua vida ‘contando carneirinhos’. Embora até possa parecer muito, é o necessário para garantir qualidade de vida e saúde física e mental. Os distúrbios do sono, no entanto, acabam causando incômodos, atrapalhando o período de descanso noturno e a disposição durante o dia.

O sonambulismo é um deles, e pode começar já na infância. Estimativas da Associação Brasileira do Sono apontam que os casos frequentes de sonambulismo em crianças são pequenos, entre 3% a 4%. O sonambulismo infantil começa a se manifestar entre os três e sete anos de idade. É considerado comum, porém, que a criança venha a apresentar pelo menos um episódio de sonambulismo. Na entrada da adolescência até a fase adulta, o problema tende a diminuir e até desaparecer.

O sonambulismo tem como características as manifestações de atividade motora, ou seja, é comum que o sonâmbulo sente na cama, caminhe pelo quarto ou outros cômodos da casa. Quando for constatada a frequência, é importante acompanhamento médico especializado para que o problema não continue na fase adulta, aumentando as chances de acidentes durante as caminhadas noturnas, como quedas, se ferir com objetos cortantes e até abrir portas são preocupantes - este último porque leva o sonâmbulo às ruas, onde pode ser agredido ou atropelado, por exemplo.

Quando esses eventos nas crianças são descobertos, os pais, em geral, tomam a atitude errada: se assustam e acabam acordando a criança. Essa atitude não é a mais recomendada, pois induz as crises a ficar mais frequentes e prolongadas. O ideal é tentar fazer o filho voltar e ficar em repouso na cama. Em média, essas crises são curtas e duram cerca de 10 minutos. Um artigo publicado na Revista Psicopedagogia estudou a questão de que as crianças voluntárias da pesquisa apresentavam dificuldades para aprender devido a distúrbios do sono, sendo, entre eles, o sonambulismo. Isso porque esses distúrbios estão associados à atenção e memória, prejudicando-os.

Se durante o dia a criança tem sintomas, como queda no rendimento escolar, alteração do humor, no comportamento, falta de atenção e agressividade, e isso é frequente, vale a pena fazer uma avaliação. Pesquisadores da Washington University School of Medicine encontraram, no ano passado, uma ligação genética para explicar o sonambulismo. O "culpado" seria um defeito na sessão do cromossomo 20, encontrado em comum em quatro gerações da mesma família voluntária ao estudo. As indicações que já apontavam para a questão hereditária ganham força com a confirmação de que o DNA, com essa alteração, tem 50% de probabilidade de ser repassado para novos membros da família.

Além dessa disposição genética, outros fatores associados podem criar situações esporádicas de sonambulismo. Entre eles estão o próprio desenvolvimento da idade, do sistema nervoso central (SNC), motor e da linguagem. Situações estressantes para a criança também podem fazer com que ela tenha uma noite agitada, com desencadeamento do sonambulismo e outros distúrbios do sono, como falar dormindo, terror noturno e despertar confuso. Algumas situações durante o dia, como muita agitação, um estresse na escola – que pode ser ter apanhado ou levado uma mordida de um colega –, uma infecção, uma febre ou resfriado são outros fatores desencadeantes.

O sonambulismo, em suma, é um distúrbio benigno do sono, que pode desaparecer espontaneamente nas crianças. O tratamento só se torna necessário, quando os episódios são frequentes e podem oferecer risco de acidentes ou constrangimento para o paciente. Nesses casos, tem-se mostrado útil recorrer aos medicamentos que combatem os estados de tensão e ansiedade e atuam sobre o padrão do sono, entre eles os benzodiazepínicos e certos antidepressivos. Técnicas de relaxamento e psicoterapia também ajudam a controlar o distúrbio, que ainda não em cura mas que se tomados os cuidados necessários podem tornar mais fácil a vida dos que dele padecem.

 

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