O garoto, de 7 anos, morreu por volta das 12h do dia 1 de março após dar entrada no estabelecimento às 7h14.
Marina Spricigo Maragno, infectologista do hospital América de Mauá e do Ambulatório de HIV e Hepatite da Prefeitura de São Bernardo do Campo e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que o Staphylococcus aureus é uma bactéria relativamente comum.
"Antigamente, o que se falava é que era um organismo proveniente apenas de infecções hospitalares. Mas hoje sabemos que está presente no ambiente e em portadores assintomáticos. Cerca de 30% das pessoas saudáveis carregam (a bactéria) nas narinas e 20% na superfície da pele", informa.
A médica garante que o risco de morte é muito baixo, mas pode ocorrer em crianças, idosos e indivíduos debilitados ou que estão internados, usando cateter ou sonda.
"Isso vai depender da suscetibilidade imunológica do paciente e das características da própria bactéria. O que acontece é que não existe um único tipo, são vários, alguns mais agressivos e resistentes e outros menos."
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a transmissão da Staphylococcus aureus ocorre por meio de ferimentos nas mãos ou outras lesões purulentas, inalação de gotículas contaminadas eliminadas na tosse ou no espirro, ingestão de alimentos infectados e contato com superfícies e objetos que contenham o microorganismo.
Como existem muitas cepas, as consequências são bem variadas. O mais comum é a bactéria colonizar a pele, causando infecção, vermelhidão, furúnculo, foliculite ou abscesso.
Alguns tipos ainda produzem toxinas que provocam uma espécie de intoxicação alimentar, com náusea, vômito, cólica e diarréia - nos casos mais graves, desidratação, dor de cabeça, dores musculares e alterações transitórias na pressão sanguínea e na frequência cardíaca - e até a síndrome do choque séptico, condição rara que desencadeia uma série de reações possivelmente fatais.
"Em decorrência de corte, lesão, picada ou algum trauma, a bactéria ainda pode cair na corrente sanguínea e originar infecções em praticamente todos os locais, como pulmões (pneumonia), coração (endocardite), musculatura esquelética (piomiosite), ossos (osteonielite) e membranas que envolvem o cérebro (meningite)", comenta Ralcyon Teixeira, infectologista do instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Segundo o especialista, a situação mais perigosa é a infecção generalizada (sepse), caso do neto do ex-presidente Lula.
O diagnóstico do Staphylococcus aureus é feito com base nos sintomas e na aparência da pele. Também é necessária a realização de exames de sangue e de cultura, a fim de identificar o tipo da bactéria. Outro teste, o antibiograma, ajuda a determinar quais antibióticos serão mais eficazes no tratamento.
É preciso salientar que várias cepas desenvolveram resistência ao medicamento. Para se ter uma ideia, dados da Vigilância Nacional de Infecções Hospitalares dos EUA (NNIS, na sigla em inglês) mostram que, desde 1999, a proporção das resistentes à meticilina ultrapassa 50% entre os pacientes em UTI. No Brasil, este índice varia entre 40% e 80%.
"Por isso, é muito importante não fazer o uso de antibióticos de forma indiscriminada. Eles devem ser usados apenas quando prescritos por um médico e sob a sua supervisão", afirma Teixeira.
A melhor forma de se prevenir das infecções causadas pelo Staphylococcus aureus é cuidar da higiene, lavando frequentemente as mãos com água e sabão e trocando as toalhas de banho e rosto com regularidade.
Os médicos também recomendam desinfetar bem qualquer ferimento, para que não ele se torne a porta de entrada das bactérias, não coçar picadas e nem mexer em espinhas ou machucados, e procurar um médico caso apresente qualquer sintoma suspeito.
Além do Staphylococcus aureus, existem outras bactérias que podem colocar a saúde, tanto de crianças quanto de adultos, em perigo. No ano passado, inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma lista com as 12 mais letais.
Elas foram classificadas por risco: crítico, no qual entra o Staphylococcus aureus, alto e médio.
Resistentes a antibióticos, estes microrganismos, afirma a entidade, são responsáveis por 700 mil mortes por ano, número que pode subir para 10 milhões até 2050.
Risco crítico além da 'Staphylococcus aureus'
Acinetobacter baumannii
Principal causadora de infecções hospitalares, essa bactéria oportunista, assim como a Staphylococcus aureus, se aproveita da fragilidade do sistema imunológico do paciente. Pode provocar pneumonia, meningite, infecção do trato urinário e sepse.
Enterobacteriaceae
Trata-se de uma família de bactérias. A mais conhecida é a Escherichia coli. Encontrada no intestino humano, ela causa infecção urinária, especialmente em mulheres.
Pseudomonas aeruginosa
Está disponível no solo e na água, e gosta de áreas úmidas. Também pode se alojar nas axilas e nas regiões genitais de pessoas saudáveis. Provoca infecções que vão de leve a grave, afetando, por exemplo, ouvidos, pulmões, coração, pele e ossos.
Risco alto
Campylobacter
A transmissão deste gênero de bactérias se dá no contato com pessoas ou animais infectados e consumo de bebida e alimentos contaminados. Causa inflamação do cólon (colite).
Enterococcus faecium
Faz parte da flora intestinal e, normalmente, provoca infecções pélvica, no coração, no trato urinário e na pele.
Helicobacter pylori
Mais conhecida como H. pylori, está presente no estômago. Na maioria dos casos, gera apenas um desconforto gástrico. Mas também pode provocar gastrite e câncer.
Neisseria gonorrhoeae
É a responsável pela gonorréia, doença sexualmente transmissível (DST) que afeta homens e mulheres. Seus sintomas incluem dor e ardência ao urinar e dores pélvicas.
Salmonella spp.
Este grupo de bactérias pode causar dois tipos de doença, dependendo do sorotipo: salmonelose não tifóide e febre tifoide. O contágio se dá por meio da ingestão de alimentos infectados e maus hábitos de higiene.
Risco médio
Streptococcus pneumoniae
É um dos principais causadores das doenças pneumocócicas invasivas (pneumonias bacterêmicas, meningite, sepse e artrite) e não-invasivas (sinusite, otite média aguda, conjuntivite, bronquite e pneumonia). A boa notícia é que tem vacina.
Haemophilus influenzae
Essa bactéria atinge, especialmente, crianças até cinco anos. Provoca infecções que começam, quase sempre, no nariz e na garganta, mas podem se espalhar para outras partes do corpo. Também tem vacina.
Shigella spp.
Bactéria do trato intestinal, é a causadora da shigelose, doença infecciosa caracterizada por dor abdominal, cólica e diarréia com sangue, pus ou muco. Crianças de 1 a 4 anos são as mais impactadas.
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