Saúde

Tomar banho quente é melhor do que praticar exercício para tratar a depressão

Tomar um banho quente de banheira pode ser mais eficaz no tratamento da depressão do que praticar exercícios físicos (Foto: shutterstock) Tomar um banho quente de banheira pode ser mais eficaz no tratamento da depressão do que praticar exercícios físicos (Foto: shutterstock)

Um banho de banheira pode ser mais eficiente para o tratamento da depressão do que a prática de exercícios físicos, apontou um novo estudo. Com a descoberta, cientistas acreditam que a imersão em um banho quente pode ajudar a restaurar o ritmo de temperatura natural do corpo, que pode ser interrompido em pessoas que vivem com a condição.

Não é novidade que a prática de exercícios físicos é capaz de levantar o humor, mas uma pesquisa da Universidade de Freiburg, na Alemanha, sugere que tomar banhos de banheira com água quente regularmente pode ter uma ação mais rápida para o tratamento da depressão do que ir para a academia quando sintomas da condição começam a aparecer.

Além disso, tomar um banho quente é muito mais fácil e acessível do que fazer uma aula de ginástica de 45 minutos. Segundo os especialistas, depressão é uma doença grave e pode deixar as pessoas totalmente sem forças e incapazes de se exercitar, então esta é uma notícia positiva.

Os pesquisadores testaram os efeitos dos banhos termais em 45 pessoas com depressão. "Os banhos hipertérmicos parecem ser um método de ação rápida, segura e de fácil acesso, levando a uma melhora clinicamente relevante no transtorno depressivo após duas semanas", afirmaram. "Também é adequado para pessoas que têm dificuldades para realizar treinamento físico."

Os participantes tinham uma idade média de 48 anos e depressão moderada a grave. Eles foram aleatoriamente designados para dois banhos de spa por semana, ou duas sessões de exercícios moderados por semana, antes de terem a depressão avaliada novamente.

As pessoas que faziam parte do grupo que recebeu o banho viram sua depressão cair em média seis pontos em duas semanas, enquanto o grupo de exercícios caiu apenas três.

Tudo o que os banhistas precisavam fazer era sentar-se em uma banheira com água quente por 30 minutos, depois enrolar-se em cobertores e bolsas de água quente por mais 20 minutos.

Já o de exercícios, os participantes tiveram que fazer 40 a 45 minutos de exercícios aeróbicos moderados, como correr, dançar ou nadar.

Tirando o fato de que ter um bom banho de banheira é muito mais agradável do que uma corrida de 45 minutos, os resultados positivos para a prática podem estar relacionados ao ritmo circadiano, conhecido como o despertador interno do ser humano.

Estudos anteriores descobriram que tomar um banho quente antes de dormir pode melhorar o sono porque abre os vasos sanguíneos da pele - permitindo que o corpo se livre do excesso de calor.

Portanto, uma resposta possível é que as pessoas no grupo que recebeu banho poderiam ter visto uma melhoria na qualidade do seu sono - e a depressão é conhecida por afetar negativamente o sono.

Acredita-se também que a depressão pode interromper a capacidade do corpo de regular a temperatura, portanto tomar banhos quentes regulares pode ajudar a corrigir isso, enquanto eleva os níveis de serotonina, o hormônio do bem-estar, que tende a ser baixa em pessoas com depressão.

Tratamento da depressão

Uma coisa é unanimidade entre os pesquisadores: a melhor solução para se evitar a condiçãoa é por meio da conversa. Assim, não só as pessoas que estão em volta daquela com depressão e pensamentos suicidas devem ficar atentas para buscar o diálogo: é também necessário que a própria pessoa se observe para, se necessário, buscar ajuda para ser escutada.

Exatamente por isso existem grupos de apoio como o Centro de Valorização da Vida (CVV), ONG que disponibiliza, por meio de uma rede de voluntários disponível pelo número de telefone 141, email, chat e Skype, a oportunidade de conversar gratuitamente e ter apoio emocional a fim de evitar uma nova morte – sempre sob sigilo.

“Nem sempre é fácil se abrir com alguém, até porque a pessoa chega a esse ponto normalmente por se sentir solitário, sem confiar em ninguém para tratar de assuntos muito íntimos", avalia Carlos Correia, voluntário do CVV.

A depressão, transtorno mental com causas ao mesmo tempo biológicas e ambientais, é de longe a doença mais ligada ao suicídio no mundo. E, cada vez que a patologia se aloca na vida da pessoa, a situação piora.

“É uma doença recorrente. Em geral, a pessoa tem vários episódios ao longo da vida. Aquela que teve uma vez tem 50% de chance de ter uma segunda. Quem teve dois quadros tem cerca de 75% de chance de ter um novo episódio. Quanto mais episódios, maior a chance de ter um próximo”, afirma o psiquiatra Humberto Correa.

Doença que causa sintomas como desânimo, tristeza, falta de prazer, alterações no sono e no apetite, a depressão apresenta seus primeiros sinais no comportamento cotidiano da pessoa. Atos como começar a faltar ou mesmo chegar atrasado a compromissos, por exemplo, podem ser associados à doença. O uso abusivo do álcool como forma de aliviar a condição também deve ser visto como sinal de alerta.

“Pessoas próximas podem e devem ajudar porque o deprimido muitas vezes não reconhece o problema ou vai ter muita dificuldade em pedir ajuda pelas próprias características da doença”, alerta Correa.

O psicólogo e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin, que também é Diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME), ressalta que é preciso saber separar a condição de tristeza.

“É natural com que a gente fique triste em alguns momentos da nossa vida, a diferença é que na depressão, a tristeza, a falta de prazer e vontade permanecem durante um longo período de tempo, e não somente dois dias”, exemplificou.

Mesmo assim, não é apenas um sintoma que vai determinar se a pessoa sofre ou não com o transtorno. Busin explica que o diagnóstico é complexo e só quem pode fazê-lo são os psiquiatras. “Na verdade, o que os psicólogos podem formular são hipóteses diagnósticas, por isso nós trabalhamos muito em conjunto com os psiquiatras”.

Doença será a mais incapacitante até 2020

Em dois anos, a depressão se tornará a condição mais incapacitante do mundo, de acordo com a previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS). A agência divulgou dados para alertar sobre os perigos da doença, mostrando que, em dez anos, o número de casos de depressão subiu 18%.

O Brasil o primeiro país no ranking de casos de depressão na América Latina. Aproximadamente 6% da população, um total de 11,5 milhões de pessoas, sofrem com a doença, de acordo com dados da OMS.

A agência alertou ainda para o fato de que metade dos casos de transtorno mental surge até os 14 anos de vida, mas a maioria não é detectada ou tratada. O levantamento feito pela agência mostrou que o público jovem merece atenção: o suicídio é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

Já o uso de álcool e drogas ilícitas, segundo a OMS, permanece uma importante questão em diversos países, podendo levar a comportamentos de risco como sexo sem proteção e direção perigosa. Transtornos alimentares, de acordo com a entidade, também são fonte de preocupação.

“Felizmente, há um crescente reconhecimento da importância de ajudar os jovens a construir a resiliência mental, desde as primeiras idades, a fim de lidar com os desafios do mundo de hoje. Crescem as evidências de que promover e proteger a saúde do adolescente traz benefícios não apenas à saúde deles, tanto a curto como a longo prazo, mas também às economias e à sociedade, com jovens adultos saudáveis capazes de fazer contribuições maiores à força de trabalho, famílias, comunidades e sociedade como um todo”, informou a OMS, por meio de comunicado.

Ainda de acordo com o organismo, muito pode ser feito para ajudar a construir resiliência mental desde cedo e contribuir para a prevenção do sofrimento mental entre adolescentes e jovens adultos. A prevenção, segundo a entidade, começa com o conhecimento e a compreensão dos primeiros sinais e sintomas de alerta de transtornos mentais.

“Pais e professores podem ajudar a construir habilidades em crianças e adolescentes para ajudá-los a lidar com os desafios cotidianos em casa e na escola. O apoio psicossocial pode ser fornecido em escolas e outros ambientes comunitários e, é claro, o treinamento de profissionais de saúde para que eles possam detectar e gerenciar transtornos de saúde mental pode ser implementado, aprimorado ou ampliado”, destacou a organização.

“O investimento por parte dos governos e o envolvimento dos setores social, saúde e educação em programas abrangentes, integrados e baseados em evidências para a saúde mental dos jovens é essencial. Esse investimento deve estar vinculado a programas de conscientização de adolescentes e jovens sobre formas de cuidar de sua saúde mental e ajudar colegas, pais e professores a apoiar seus amigos, filhos e alunos”, concluiu a OMS sobre o tratamento da depressão.

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