Bissexualidade

Homens assumem bissexualidade e também não acreditam em hétero

Tom Kyo se declara abertamente bissexual. (Foto: Arquivo Pessoal) Tom Kyo se declara abertamente bissexual. (Foto: Arquivo Pessoal)

Comportamento

Bissexualidade é a letra da sigla LGBTQIA+ e aqui, homens falam sobre sua sexualidade

Bissexualidade é a letra da sigla LGBTQIA+ ainda pouco discutida. As piadas internas entre bissexuais demonstram o quão pouco o assunto é comentado: "B da sigla não é Beyoncé", diz um dos vários memes na internet. É comum ouvir que bissexuais são “indecisos” ou que devem "obrigatoriamente gostar 50% de homem e 50% de mulher”.

Além disso, geralmente, o que se percebe é que mulheres bissexuais são quem costumam falar e assumir abertamente a própria sexualidade. Já assumir gostar de ambos os sexos para alguns homens parece ser impensável. Há quem se assuma apenas gay, que ocasionalmente beija mulheres, do que abertamente se considerar bissexual.

Por isso, o Lado B quis ouvir alguns homens bi sobre como lidam com a própria bissexualidade, expressão de gênero e os comentários das outras pessoas.

Tom Kyo tem 31 anos e relata que sua identificação demorou certo tempo, pois o lugar onde vive é uma cidade menor e com poucas referências no assunto. Relata ter sempre sentido atração por mulheres e que quando passou a ficar com homens, causou um estranhamento em várias pessoas.

“Existe um preconceito muito grande e até a reprodução de um machismo por parte até das mulheres. Ouço muito que eu sou “um desperdício”, quando falo que fico com homens também. Além disso, sou um homem “padrão”, barbudo, mas não binário, então, gosto de usar maquiagem, por exemplo. Isso deixa as pessoas bem confusas”, comenta.

Tom ainda relata que entre os homens, já ouviu comentários de que ser bissexual é sinônimo de safadeza. “Eu já ouvi muito isso de é tudo putaria e safadeza. As pessoas parecem que não acreditam e, às vezes, eu fico com um pouco de preguiça, confesso. Mas é aquilo, eu não acredito em hétero, mas também não fico duvidando das pessoas. Hoje em dia, lido melhor com isso. Gosto de demonstrar carinho em público e beijo quem eu quiser”, se diverte.

Kalebe Manzini, de 29 anos, relata que tratou a própria bissexualidade na terapia. “Pra mim, sempre foi muito natural, eu sempre senti atração pelos dois, mas por questões religiosas, na época, tive essa dificuldade”, relata.

Comenta que não se encaixa muito nos padrões de masculinidade e que, muitas vezes, isso acaba gerando comentários. “Tem mulher heterossexual que discrimina um pouco. E tem homens que tem aquela ideia de que o homem, por ser bi, tem que ser o 'macho alfa'”, ressalta.

Sobre a bissexualidade, Kalebe reforça que esse estereótipo em cima de corpos é prejudicial. “Existe tipo um fetiche em cima de corpos bi. Mas um corpo não é apenas um corpo, sem sentimentos, então, é necessário ter mais respeito nesse sentido”, declara.

Leonardo Sales, de 28 anos, diz que a jornada com a própria bissexualidade foi complicada. “Primeiro, eu tive que construir a identidade de um homem gay. E isso por si só já é difícil, enfrentar o preconceito das pessoas é "sair do armário". E apesar de já ter beijado meninas e ter sido apaixonado por várias durante a adolescência, eu meio que achava que não poderia ser bi. Eu era gay e ponto”, diz.

Leonardo ainda fala sobre a curiosidade, que sempre foi presente. “Apesar de eu sempre ter me sentido mais atraído pelos rapazes, sempre me ficou a curiosidade de experimentar. Porque pra mim, a sexualidade humana é sobre a experimentação. Acho que todo mundo é um pouco bi. Só recentemente que eu tive a minha primeira experiência sexual com uma mulher, apesar de já ter tido algumas experiências afetivas. Ainda sinto um pouco de dificuldade em me nomear como bissexual. Me sinto mega inseguro de chegar numa menina e ela me achar afeminado demais”, confessa.

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